A RESISTÊNCIA DEMOCRÁTICA

Por Ricardo Almeida
"O importante é que a nossa emoção sobreviva" - Eduardo Gudin e P.C.Pinheiro

Parafraseando Sartre, eu me arrisco a dizer que nunca nos sentimos tão "livres" quanto na resistência democrática. Cada gesto nosso durante a ditadura representava um engajamento, e a conseqüência poderia ser o isolamento, a prisão ou até a morte. Naquele período tiranizado, foram os estudantes, junto com agricultores, operários, políticos, religiosos e intelectuais, que resistiram de uma forma mais intensa e decisiva. Num primeiro momento, aguardávamos a volta dos exilados na esperança de que houvesse uma salvação nacional, com novas ideias para melhorar o mundo e as nossas vidas. Depois, embarcamos na leitura dos clássicos e de todo tipo de reflexão filosófica, política e existencial que havia sido produzida nos séculos 19 e 20. Tínhamos uma forte influência daquela rebeldia originada em maio de 68, na França, da guerrilha latino-americana e do Woodstock . Aos poucos, as visões iam se clareando e a gente vivenciava um sentimento misturado de liberdade e de prazer. Muitas polêmicas, risos, trabalho e sexo, com algumas drogas para suportar as contradições da vida ( o álcool e o açúcar também são drogas, hein!). Ali, naquele momento específico, a política se misturava com muita ousadia e prazer. A aquisição de novos conhecimentos e a busca por uma utopia libertária e subsversiva ia se realizando intensamente em cada um de nós. Ao mesmo tempo estávamos expostos a uma situação-limite e vivendo contradições de verdades subjetivas/objetivas da nossa diversificada condição humana, assim como confrontados com algumas escolhas difíceis, muitas delas extremas e urgentes que pareciam só depender de nós.

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