NEM TUDO ERA SUBVERSÃO...

Por Breno Correa Filho

Este episódio aconteceu possivelmente alguns dias antes da manifestação na praça do direito, para facilitar a compreensão de quem não viveu aquela época, vou explicar algumas coisas antes de iniciar a história: naquela época era preferível a polícia te apanhar com um cigarro de maconha do que com o que eles chamavam "material subversivo" (bárbaro o termo né?), a convocação para o encontro na praça do direito era feita através de folhetos, impressos do jeito que se podia, e passado de mão em mão, saiamos para rua com tais folhetos e discretamente iamos entregando, obviamente a polícia (sempre bem informada) sabia disso tudo. O fusca era a viatura oficial dos "ratos" naquela época, (estou postando junto um comercial para tv do fusca, de 1951, quando a polícia de São Paulo começou a usar os carrinhos, e logo todo o país, creio que para visualizar se clica em arquivos na barra a esquerda da nossa página). O Vagareza como não era de Pelotas alugou um imóvel para morar e o pai do nosso amigo Alberto (Magrão) Llanos (medicina) foi o avalista no contrato de locação.
Era um fim de tarde, como de costume a gente se reunia para tomar mate e fumar "uma" geralmente na barragem onde dava para se ver o pôr do sol.
Eu morava na Anchieta ente Neto e Voluntários, e o Magrão Llanos com o Barata passaram lá para me pegar num chevette branco, assim que eu entrei no carro, encostou do lado o Vagareza (acho que o Peninha estava junto)na sua brasilia laranja. Com os carros emparelhados o Magrão passou pela janela o contrato de locação já assinado pelo pai dele, o Vagareza pegou e seguimos o nosso rumo.
Ao chegarmos na esquina da Neto fomos fechados por um fusquinha preto e branco, com o nosso caminho bloqueado tivemos que parar, nem vi como, mas dois ou tres "ratos" nos apontando armas (um deles tinha uma metralhadora INA, que anos mais tarde tive oportunidade de experimentar)estavam em nossas janelas e um deles já tinha pego o papel que foi passado de um carro para outro. Não esqueço a expressão de dificuldade do "rato" que estava procurando entender o que estava escrito no papel, lia como se estivesse juntando as letrinhas, e nós paralizados, assim que ele se deu conta que o documento era um inofensivo contrato de locação(a impressão que tive é que se passaram horas)ficou visivelmente decepcionado, devolveu para o Vagareza e para não perder a "pose" olhando sério para todos nós... Disse em tom ameaçador: "Tomem cuidado!!!"

Um comentário:

  1. Ah, lembranças... Uma noite o Gastalzinho buscou-me na casa de meus pais para uma reuniao num "aparelho". Rodamos em zigue-zag pela cidade para despistar o Dops (acho que a paranoia nos fazia sobrestimar a capacidade dos agentes da ditadura); depois de muito chegamos a uma casa perto da UCPEL, entramos, lá estavam dois uruguaios e mais umas 5 pessoas (um deles o Flavio Coswig, o que contei para ele recentemente). Eu, cheio de ideais e disposto a lutar contra a ditadura estava fascinado... dai a pouco a reuniao passou a discutir... rock, Santana...O que? como era possivel a "revolução" corrompida pela musica imperialista?! Ah, as coisas que pensamos aos 18 anos... Lucio Castagno (Medicina-UFPEL)

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