LEMBRANÇAS DE MEDOS E PAIXÕES

Por Ronaldo Cupertino

Lembro daquela manhã luminosa na Pracinha do Direito, 1978, eu estava lá. Junto com o Guto King, Zanoni e mais uma galera da arquitetura, transitávamos entre o medo dos tacões da ditadura que naquele momento na dava mole não e a paixão de lutar por um país livre. Lembro que alguns achavam que o Gastal na devia subir no palanque e outros que sim. Não deu outra: o corajoso companheiro subiu no palanque e mal abriu a boca e os porcos caíram de pau em cima dele.
Depois, até onde me lembro, foi o corre-corre para saber aonde o companheiro tinha sido levado. Chamaram o velho Gastal. Tudo foi um pouco de história do Brasil e nós estávamos lá, com medo e paixão!
Lembro da morada do Vagareza na Osório, da morada do Lucio Vaz na Praça da Caixa D’Água, da morada do Glaudo e da Nadija, do Fefa e de tantas outras.
Lembro da minha morada no Laranjal, quando fui casado com a Carla e onde funcionou um dos primeiros núcleos do PT, em 1981/82 e muito de discutiu e construiu com vistas ao erguimento do ME.
Lembro do Léo Venzon, amigo querido e criativo (trouxe a serigrafia de combate para Pelotas), lembro do Pena, da Duca, dos irmãos André, Cecília e Álvaro Hipólito, do Ricardo Nogueira (falamos há pouco), do sempre militante Paulo Brum Ferreira, da Bitise, do castelhano Daniel, do Flack, da Beka, e tantos outros que minha memória, traindo-me, não ajuda a lembrar, mas sei que eles estão guardados no fundo do meu coração...
Lembro que minha maior atividade política nesta época estava relacionada ao teatro.
Lembro que para liberar uma peça na polícia Federal, vinham dois agentes de Rio Grande. Um olhava a peça e outro acompanhava o texto. O que fazíamos era ensaiar duas peças: uma para os censores e outra para o público. Uma vez, um dos agentes veio assistir uma estréia na Escola Técnica. Apresentamos o espetáculo sem dar a mínima para o agente da PF. Como já tínhamos o carimbo que eles davam nos textos, nada aconteceu. Mais uma vez o medo e paixão trilharam nossas vidas...
Lembro das aulas de teatro que ministrava no DANK.
Lembro de atender o telefone, inúmeras vezes, com um sonoro “Pelas Liberdades Democráticas!”.
Lembro de não ser aceito em muitas famílias de Pelotas.
Lembro de amigos que perdi, porque seus pais não aceitavam “comunistas”.
Caros amigos, atualmente trabalho na Petrobras no Rio de Janeiro e estou fazendo o maior esforço para ir ao nosso encontro e poder relembrar de tantas outras coisas que culminaram num país livre como o que hoje vivemos. Viva nós!!!

Por Mauro Pedrollo

Natal, 18 de fevereiro de 2009. Foi com comedida alegria que hoje, ao iniciar as minhas atividades, recebi um emeil de uma antiga amiga, uma grande amiga. Amiga dos tempos de universidade, amiga das lutas pela democracia, amiga dos debates acalorados sobre a verdade política, amiga de tantos sonhos. Amiga tão amiga que não precisamos nos encontrar nem nos falar sempre, todos os dias; passamos meses sem sequer um olá e, de repente, um aceno, um email e estamos unidos, jungidos pela paixão dos amores puros, fundidos na solidariedade das pretensões unas.

Foi então uma segunda comedida alegria, saber por ela que o pessoal de Pelotas, da militância aguerrida, que tinha a verdade e a tenacidade nas mãos, o pessoal que construiu um mundo ideal – no imaginário, agora anos depois está buscando se reencontrar, reunir-se sabe lá para que – talvez um mate, talvez uma noitada ao estilo dos velhos tempos com boa música, muito álcool etc, talvez mesmo para se reencontrar....

É, ocorre que tantos de nós acreditamos tanto num novo dia, num novo Estado, numa nova sociedade, que ocorreria bastava a nossa dedicação, o nosso suor, a conquista dos espaços de poder e, então: EI-LA a sociedade justa, dos homens justos.......a NOSSA sociedade, finalmente a sociedade ideal.

Passaram os anos, e nós passarinhos, o poder veio, foi, chegamos, fizemos e de fato, descobrimos a mais dura das lições, que não estava nos livros tão valorados: não é bem assim.

A questão é que há diversos fatores que poderia abordar, mas tentando sintetizar para não perder a referência deste texto, ocorreu que a ocupação do poder de Estado, demonstrou à militância que não é simples como se pensava. Há interesses e mais interesses, há uma teia de relacionamentos que não pode ser abalada, sob pena de abalo a toda a estrutura, com conseqüências imaginadas e não desejadas.

Assim, vieram “chavos” e conchavos....Sarney uma, duas três vezes; Temer......Edison Lobão, MINISTRO..........MEUS DEUSES!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Não sei o resto da turma, mas particularmente, desde as denúncias do escândalo do mensalão, tenho pensado e repensado as minhas opções, a minha “militância”. Faço um “mea-culpa” por saber que resultados recentes, são conseqüência das minhas atitudes lá atrás, as omissões, as confortáveis omissões.

Ora, neste contexto, saber desta intenção de reencontrar velhos companheiros, trocar experiências de tantos anos, certamente, no mínimo, desperta curiosidade, uma ansiedade dos que ainda sonham, por poder ouvir das experiências outras e renovar-se, renovando.

Sem dúvida o reencontro em março, em Pelotas, promete ser um grande e impagável evento.

Parabéns ao Renato, ao Vagareza, pela sua iniciativa e pela criação da página.

Obrigado Ângela Amaral, amiga de tantos anos, pelo email. Estarei lá, por mim e por ti e por tantos.

Por André Luiz Hypolito.

Prezados companheiros de tantas lutas.
Tenho lido as notícias do blog e fiquei muito feliz com a comemoração dos 30 anos da chapa construção.
Sinto-me participante deste processo histórico que também ajudei a construir. Pois foi no bojo destas lutas contra a ditadura, lutando pela anistia, que participamos efetivamente da criação do Partido dos Trabalhadores.
Foi uma época heróica em que para nós, que lutávamos no MEstudantil, sentiamos a necessidade de, além de criarmos entidades estudantis livres, ajudarmos na formação de um grande partido classista . Com este espírito
nos engajamos no movimento pró PT. Criamos vários núcleos estudantis do PT na Católica e na Federal. Posteriormente criamos a corrente Novação para defender a luta dos trabalhadores na Universidade. Lembro de grandes militantes como o Jarbas(camarão), Neemias, Gastal, Flávia, Valdecir , Paulinho Nogueira, Laura Fonseca,Márcia Fonseca, minha amada companheira Ines, Nene, companheira Gorete de P.Alegre, Bitisa, Salsicha, Marcel,Duca, Geno, e tantos outros.
Em relação à chapa Construção ajudamos a construir a União de toda a esquerda e na prévia derrotamos a direita.
Mas como tentaram anular a eleição apoiados pela reitoria, houve uma revolta dos principais diretórios acadêmicos(medicina, agronomia,arquitetura,ed. artística entre outros) que culminou com a criação do DCE Livre. Foi um período muito rico em que esta entidade liderada pelo Luiz Fernando Fleck, desempenhou importante papel em todas as lutas democráticas de Pelotas. O DCE livre foi um dos reconstrutores da UNE. Elaboramos junto com setores culturais de Pelotas a GERARTE que foi um dos maiores eventos culturais da história de Pelotas.
Fica aqui a minha homenagem a vários companheiros que mesmo sendo de outras correntes foram muito importantes nestas lutas: Paulinho Brum, Flávio Coswig, Coelho, Robertinho, Peninha, Lourenço, Elemar, Segalim, Utzig, grande Duda, Léo Venzon, Oscar Luiz Schuch, Ten, entre outros.
Abraços! Saudades!

6 comentários:

  1. Oi, tudo bem? Meu nome é Patrezi e sou estudante de Artes Visuais pela UFPel. Eu li o blog e estou pesquisando sobre o pessoal que organizou a Gerart, da Casa do Artista Pelotense. Terias como me falar qual foi a data (aproximada pode ser) de fundação do DCE LIvre (que organizou as Mostras universitárias de arte)?
    abraço, agradeço desde já.

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    1. Segundo o Luis Fernando Fleck, presidente da Chapa Construção, que venceu as eleições em 1978, o DCE Livre da UFPel foi criado em fevereiro ou março de 1979. A Gerarte aconteceu naquele mesmo ano. E depois teve a Palmarte, que a Nadija e o Hamilton Coelho, que hoje mora na Barra do Chuí, devem lembrar... A Casa do Artista era indenpendente do movimento estudantil, embora muitos de nós participássemos. Abraços

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  2. DCE Livre em Pelotas é claro.

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  3. A Gerarte é anterior a 1979, pois veio uma série de shows de peso como Jorge Mautner, no Sete de Abril,e Gonzaguinha, no Guarany. Na mesma época teve o show "Refavela" do Gilberto Gil, no Theatro Guarany; ali tbém teve Toquinho & Vinicius. Então a 1a Gerarte deve ter sido por 1976, depois teve outras..

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    1. A Gerarte foi realizada em 1979, pois ela é fruto do DCE Livre. Os shows do Jorge Mautner e do Gilberto Gil foram antes, mas não lembro deste do Gonzaguinha. Nós produzimos o show Moleque Gonzaguinha em 79, mas lá no estádio da ATP (é isso? Perto da Barroso com a Argolo...por ali). Também produzimos Os Saltimbancos, que foi um enorme sucesso de público. Este no Guarany. Depois vieram muitos outros, como Elomar, João Bosco, Tarancón (duas vezes), Nelson Coelho de Castro, Nei Lisboa entre outros. Abraços

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  4. Eu fui ao show do Gonzaguinha no Guarany. Teve um do Mautner no Cine Tabajara. Elomar, no Colégio Pelotense. Eu ia a quase tudo. Gerarte foram duas. A Duca participava da organização. Quase todos os shows foram no Gonzaga. Eu adorava a Casa do Artista. Outra coisa boa desse tempo era uma lojinha que vendia discos alternativos. Foi lá que comprei o primeiro do Boca Livre, antes de ter contrato com uma grande gravadora. Uma época muito rica.

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