O ATO

- Na primeira foto, além do Gastal, aparecem ao fundo o Coelhinho, Paulinho Nogueira e o Maurício Polidori, no canto à direita.

- Na segunda foto, o Dep. João Carlos Gastal, de costas. O Claudiomiro, em pé, o Valdecir, no canto à direita, o André Hipólito, abaixo do Claudiomiro, embaixo à esquerda estão a Nelfai (viúva do Renê Dutra), a Bitisa (de touca, rindo).e o Adão, sentado com cigarro na boca. Mais o Carlos Ari e o Ernani Ávila, ao fundo em pé, a Ivone Machado – 1ª sentada, à direita, aplaudindo e rindo.

Na terceira foto, a Bebete, irmã do Gastal e o Mickey.


Por Bitisa Mascarenhas

Minhas lembranças do ato na praça do Direito são de outra natureza, e só por isso acho que podem ser interessantes. Esse dia teve para mim uma importância pessoal que foi fundamental e definidora. Foi o dia em que escolhi um lado, ou o dia em que mudei de lado.

Na véspera, enquanto vocês se organizavam, eu dormia tranquilamente, sem idéia do que estava acontecendo e por acontecer. Também não tinha uma compreensão minimamente alinhavada do que acontecia no país. Em 77 eu tinha 20 anos e estava no 2º ano de Direito. Em 76, quando entrei, fui “encaminhada” pelo meu amigo Tom Fetter – este mesmo que hoje é o prefeito de Pelotas – para um seu amigo e correligionário que era então presidente do DA: chamava-se Airton, apelido Catarina (era de Lajes), e foi meu primeiro namorado na vida universitária – tive muitos. Imediatamente passei a integrar a equipe do DA como – surpresa! – secretária. Penso que simplesmente fui convidada, aceitei, porque achei o máximo ser de um organismo estudantil, e fui absorvida. Não tenho nenhuma memória da atuação desse grupo naquela entidade naquele momento.

No dia do ato – quando foi? Em abril? Maio talvez? – fui pra faculdade assistir aulas. Os acontecimentos daquela manhã me deixaram de frente pra uma realidade que até então era pra mim distante, difusa e confusa. A violência repressiva do aparato policial-militar cercava minha praça, minha escola, meus colegas, outros estudantes que eu não conhecia. Algumas pessoas – colegas, professores – olhavam de fora, das escadarias e das janelas da faculdade. Eu não pude ficar nas escadas. Simplesmente eu soube ali, numa intuição libertária que explodiu dentro de mim, o que era justo, o que era certo, o que era bonito. Escolhi o meu lado e desci pra praça. Não foi nenhuma decisão baseada na minha consciência política, que era zero. O que me levou foi puro impulso, emoção, indignação, o meu sentido de justiça.

Minha tomada de posição provavelmente teria se dado de qualquer modo, mais tarde. Acho que sempre tive uma alma libertária. O que me faltava era informação. Fico feliz que tenha se dado mais cedo – naquele ato, na praça do Direito, ainda no início de 77. Por ter sido então, pude viver em profundidade a retomada do movimento estudantil em Pelotas e no Brasil, as lutas políticas daquele período, a construção do saudoso Partido dos Trabalhadores logo após. Quanta coisa eu teria perdido se tivesse demorado um pouco mais a querer compreender. Talvez tivesse perdido até mesmo a possibilidade de estar hoje aqui, com vocês parte deste grupo.

Por Paulo Brod Nogueira

Bitisa, tanto tempo convivemos e eu te tinha como parte integrante da organização daquele ato. Esse teu relato é,pra mim, mto bonito e revelador mas, sobretudo, emocionante por resgatar o estado de consciência onde nos encontrávamos, que não era mto diferente entre os que estavam dentro ou fora da praça. Como disseste, bastou um momento para te encontrares identificada...como de certo aconteceu em akgum momento, antes, durante ou depois (não importa), com todos nós.




Um comentário:

  1. Esse comentario também vem das "brumas" da memória... naquela manha, após a noite de planejamento da manifestação, peguei o Caduto (Medicina) e fomos para a Pça do Direito. Estacionei o fuca no Guarani, com medo de ser identificado, e fomos com receio de que talvez nao houvesse manifestantes. Lá chegando que surpresa... vários estudantes presentes e principalmente muitos (MUITOS!) brigadianos... já era um sucesso!! Depois que prenderam o Gastalzinho sentamos na praça e levantei escrevi um "L" na areia no centro da roda; a seguir varios outros escreveram "I-B-E-R" para chegarmos a LIBERDADE... mas acho que ficou mesmo em LIBER quando a brigada se deu conta acabou com a nossa festa. É foi mesmo um grande momento, aos 18 anos e cheio de ideais. Lucio Castagno (Medicina - UFPEL)

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