DEPOIMENTOS SOBRE O ME PELOTAS PÓS 78

      Durante o reencontro em Pelotas (março de 2009) foram gravados diversos depoimentos de pessoas que vivenciaram aquela época de descobertas, rebeldias e ditaduras. Por problemas técnicos, a maioria dessas entrevistas ficou sem áudio mas está disponível aos curiosos e pesquisadores no Instituto Mário Alves – IMA, em Pelotas. O vídeo publicado abaixo (composto de uma introdução e de três partes com depoimentos) é uma compilação experimental que servirá para divulgar amplamente a existência deste valioso material. Outras publicações poderão ser elaboradas e publicadas livremente, segundo diferentes conceitos estéticos e visões do processo.


O ÁUDIO DESSES DEPOIMENTOS POSSUI RUÍDOS E, EM ALGUNS CASOS ESTÁ BAIXO. É ACONSELHÁVEL AUMENTAR O VOLUME DO COMPUTADOR E/OU ESCUTAR COM FONES DE OUVIDOS.
Seleção e edição: Ricardo Almeida - abril de 2012.
        

INTRODUÇÃO: Montagem livre com músicas e imagens da época (ATENÇÃO! a música foi retirada, em função dos direitos autorais),e um pequeno registro do ato na Praça do Direito, em 2009.
PARTE 1: João Carlos Gastal Jr., Luis Fernando Fleck, Duca Lessa, 
Eduardo Soares (Duda), Bitisa Mascarenhas e André Hypolito.
PARTE 2: Ellemar Wojahn, Jacira Porto, Alvaro Hypolito (Nenê), 
José Luis Segalin, Neomir Alcântara,  Samuel Chapper (Samuca),
Gerson Madruga (Pardal) e Luis Eduardo (Barata) Perez.
  
PARTE 3: Ricardo Almeida (Vagareza), Eva Santos (Evinha), 
Helenara Fagundes, Paulo Freitas (Paulinho Pequeno), Walberto Chuvas,
Paulo Brum e Renato Della Vechia.

É SINAL QUE VALEU!!!

Vitor Ramil escreveu em Satolep: "Se um dia qualquer / Tudo pulsar num imenso vazio / Coisas saindo do nada / Indo pro nada / Se mais nada existir / Mesmo o que sempre chamamos real / E isso pra ti for tão claro / Que nem percebas / Se um dia qualquer / Ter lucidez for o mesmo que andar / E não notares que andas / O tempo inteiro / É sinal que valeu! / Pega carona no carro que vem / Se ele é azul, não importa / Fica na tua / Videntes loucos de cara / Descrentes loucos de cara / Pirados loucos de cara / Ah, vamos sumir! / Latinos, deuses, gênios, santos, podres / Ateus, imundos e limpos / Moleques loucos de cara / Ah, vamos sumir! / Gigantes, tolos, monges, monstros, sábios / Bardos, anjos rudes, cheios do saco / Fantasmas loucos de cara / Ah, vamos sumir! / Vem anda comigo pelo planeta / Vamos sumir! vem nada nos prende ombro no ombro vamos sumir!"

TRANSVERSAL DO TEMPO

Quanto tempo, pois é quanto tempo (...) Tanta coisa que eu tinha a dizer, mas eu sumi na poeira das ruas (...) Eu também tenho algo a dizer mas me foge a lembrança... (...) Acho que o amor é a ausência de engarrafamento. (mistura de Sinal Fechado - de Paulinho da Viola - com Transversal do Tempo - de João Bosco e Aldir Blanc).

NADA SERÁ COMO ANTES...

Eu já estou com o pé na estrada / Qualquer dia a gente se vê / Sei que nada será como antes, amanhã / Que notícias me dão dos amigos? / Que notícias me dão de você? / Alvoroço em meu coração / Amanhã ou depois de amanhã / Resistindo na boca da noite um gosto de sol / Num domingo qualquer, qualquer hora / Ventania em qualquer direção / Sei que nada será como antes amanhã... (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos)

OUTRA CANÇÃO ATRAVESSOU O TEMPO...

Outra canção atravessou o tempo e foi assumindo diferentes roupagens. Será que é possível escolher apenas uma que represente o sentimento que existia nas ruas, nas praças e nos pátios de Pelotas? Pois, escutem esta que foi composta pelo nosso "louco de cara" Vitor Ramil e façam os seus comentários...(Interpretação de André Gomes e Frank Solari no Rio de Janeiro em 2006)

VIVA LA NEGRA MERCEDES SOSA

No auge das ditaduras latino-americanas Mercedes Sosa cantava Athualpa, Zitarosa e Violeta Parra de uma maneira muito linda e acessível. Era uma índia da região de Tucuman (norte da Argentina) que aos poucos foi se tornando mais e mais universal. Primeiro cantou a resistência, e depois as coisas do cotidiano, através das canções de Silvio Rodrigues, Chico Buarque, Milton Nascimento, León Dieco, Fito Paez e El Loco Charly. Sempre nos mostrava uma vontade clara de dialogar com as novas gerações e de experimentar novos sentimentos. Hoje, no dia do seu falecimento, precisamos reconhecer que La Negra nos pasaba las orientaciones políticas y espirituales necesarias para sobrevivir y luchar en aquella época dificil. Uma vez, num show que que ela fez no Beira-Rio, as forças paramilitares desligaram as luzes do ginásio e ela simplesmente falou para o público: "eles só se sentem seguros quando as luzes estão apagadas, eles se escondem atrás da escuridão". Gracias, Mercedes! Qué nos ha dado tanto...

OS MELHORES COMERCIAIS DA TV

É muito gostoso rever alguns comerciais dos anos 70, 80 e 90, pois eles também servem para uma reflexão e comparação entre as diferentes épocas.

11 DE SETEMBRO (de Ken Loach)


Quem já viu, reveja! Quem não viu, veja e divulgue essa brilhante reflexão do diretor Ken Loach sobre dois 11 de setembro (o de Nova York e o do Chile, de 1970). O pequeno filme faz parte de um longametragem em que onze diretores participaram com suas diferentes visões sobre o ataque às torres gêmeas (Nova York).

ANTECEDENTES E CONTEXTO HISTÓRICO (3 EPISÓDIOS)



CORAÇÕES E MENTES
(GUERRA DO VIETNAM 1954/1975)

REVOLTA ESTUDANTIL
(MAIO DE 68 - FRANÇA)

PAZ E AMOR
(WOODSTOCK 1969)


GOLPE MILITAR NO URUGUAI - 1973


GOLPE MILITAR NO CHILE - 1973


GOLPE MILITAR NA ARGENTINA – 1976


DITADURA MILITAR NO BRASIL
(1964/1985)

O FIM DA GUERRA FRIA E A NOSSA HERANÇA



MOÇAMBIQUE - TRIUNFO DA FRELIMO (Samora Machel)

SOLIDARNOSC - POLÔNIA

ANTECEDENTES DO FIM DA URSS

NICARÁGUA – TRIUNFO DA REVOLUÇÃO SANDINISTA

DERRUBADA DO MURO DE BERLIM – History Channel

DERRUBADA DO MURO DE BERLIM - Jornal Nacional TV Globo

APARTHEID + NELSON MANDELA - AFRICA DO SUL

GREVE NO ABC PAULISTA - BRASIL

MÃES DA PRAÇA DE MAIO - ARGENTINA

REVOLUÇÃO CUBANA 1959
(CHE GUEVARA)

BBC: A HISTÓRIA DA REDE GLOBO

Aqui neste espaço estava publicado um vídeo do Jornal Nacional que abordava o Movimento das Diretas Já. A Rede Globo proibiu a publicação dos seus vídeos, sem autorização da mesma. Portanto, trocamos pela primeira parte de um documentário realizado pela BBC de Londres sobre a Rede Globo. As outras seis partes podem ser encontradas no YouTube.

UMA PESQUISA ACADÊMICA?

Por Renato De La Vecchia
Estou bastante admirado com a repercussão que está tendo esse debate (acho que liberamos uma "energia" muito forte). Ainda bem. Não estou em casa nesse momento, mas terça feira pretendo mandar a todos a relação que tenho de contatos com ex militantes (tanto os que tenho endereços quando os que não tenho) para que todos possam opinar e colocar outros nomes como já vem ocorrendo. Existe muitos nomes de outros períodos ou até mesmo que não tem nada a ver com esse debate (Cacau na Católica, Tramontin na Federal) mas que para meu trabalho eu vou precisar contatar. No entanto podemos acrescentar outros nomes daquela lista.
Existe uma possibilidade que eu acho que poderia ser algo bastante interessante. A partir da última Semana Acadêmica do DA do Direito da UCPEL, uma das palestrantes era uma prof. da PUC (não lembro o nome) que pertence aquela Comissão Nacional que está revisando os casos de anistia política e estabelecendo os valores que estão sendo indenizados aos perseguidos pela ditadura. Ela se comprometeu a tentar articular uma das reuniões da Comissão em Pelotas em março de 2009 (a comissão está se reunindo de forma itinerante em vários municípios e estados). Conversando com o Enrique Padrós (coordenador do curso de história da UFRGS e que fez seu trabalho de doutorado sobre a Operação Condor), ele me comentou que estava indo a Brasília, pois existia um projeto de mapeamento de locais/monumentos importantes ou simbólicos na luta contra a ditadura.
Talvez se articulássemos um reencontro com uma sessão da comissão e fizéssemos a reconstrução da atividade do Direito (de preferência com os mesmos personagens) acho que poderíamos fazer um movimento com um impacto importante e marcar a praça do Direito como espaço de resistência à ditadura, e não apenas com os símbolos do positivismo e do autoritarismo que lá estão (me desculpem os advogados).
Também insisto na idéia de cada um de nós elaborar um pequeno texto falando sobre um fato significativo do período para publicarmos. Existem muitos, principalmente engraçados, que dentro de alguns anos irão se perder no tempo. O Medina tinha me falado a algum tempo atrás de uma pessoa (não quis me dizer o nome) que foi fazer uma pichação contra a reitoria e escreveu "fora reitor comunista" e que tiveram um certo trabalho para explicar ao mesmo que ele é que era comunista e não o reitor. Também não sei se é verdade, apenas ouvi de outros, a passagem que o Coelhinho estava discursando e em determinado momento falou "nessas veias corre sangue operário", momento em que o Adão gritou da multidão "Fez transfusão, Coelho?" (ao menos foi como ouvi a versão). Enfim, a ídéia é organizarmos esses momentos.
Por fim, existem muitos ex militantes já falecidos (aproximadamente uns 30 segundo meus dados). Poderíamos organizar um momento em que homenageássemos todos ao mesmo tempo (mesmo que simbolizados por um ou dois). Nesse caso não poderíamos esquecer a Gilse, que faleceu em atividade do movimento (mesmo que de um período um pouco posterior - 84). Pegando carona para ir a um CEE da UEE, pois o DA não tinha dinheiro para pagar a passagem de ônibus.

A ORIGEM DO REENCONTRO

Por Paulo Brum
Sinto-me tomado por uma profunda alegria e emoção com o rumo e a proporção que tomou essa reunião.
O que podem fazer algumas garrafas de vinho, hein?
Pois é, já na 3a. garrafa, na minha casa em Brasília, Fleck e eu comentávamos sobre a vida, o tempo de nossa profunda e fraterna amizade,
e a queda de cabelo do Fleck. Então lembrei que tinha umas fotos da época, de um debate na Faculdade de Direito, quando o Fleck ainda tinha cabelo em quantidade.
Mas quando pusemos o olho na data das fotos, vimos que eram de 1978, portanto, 30 anos.
Trinta anos de Construção.
Abrimos a 4a. garrafa, minha companheira só olhando prá gente e dizendo: piraram!
Dessa piração surgiu a idéia de fazer esse encontro, que pertence a uma geração que, mesmo sacrificando suas horas de lazer, estudo, convivência familiar, namoro, enfrentou bravamente o regime autoritário de 1964 e somou-se à luta pela democracia no nosso País.
Entretanto, preciso retornar mais 4 anos, a 1974, relembrando a Marcha dos 400, do campus da UFPEL até o centro da cidade, às vésperas da eleição de 1974.
O Presidente do Banco do Brasil, Nestor Yost, era candidato ao Senado pelo RS, e foi convidado pelo então Reitor, Delfim Mendes da Silveira, para dar uma palestra na universidade.
Como os estudantes não quizeram assistir a palestra, preferindo ir para a cidade.Para forçar a assistência, achando que estava tratando com cordeiros, a Reitoria suspendeu a saída dos ônibus.
Então, alguns estudantes se revoltaram, em meio a massa de passivos cordeiros (sic) e resolveu invadir o auditório e denunciar o ato da reitoria.
Em seguida, saindo do auditório, organizou-se na hora uma mobilização que culminou numa marcha a pé, do Campus até o centro da cidade, onde encontramos os Deputados Lélio Souza e Getúlio Dias, que na mesma noite denunciaram a atitude da Reitoria pela televisão. Tem-se notícia que foi a primeira manifestação de estudantes em uma universidade desde a edição do AI 5 e dos famigerados Decretos 228 e 477. Isso não importa, mas foi um ato importante. Parecia que iamos deflagar a revolução. De arrepiar. Jorge, Flávio, Adão, Helder, eu, entre outros, à frente, gritando palavras de ordem, e se organizando durante a caminhada. Aí começou uma amizade fraterna que permanece até hoje.
Esse fato reveste-se, em suas devidas proporções, de grande importância histórica para o movimento estudantil e a luta pela democracia, pois naturalmente formou-se, em meio à marcha, um grupo que se ampliou e chegou a 1978 com a força que resultou na Construção.
Aí conheci o Flávio Coswig, um grande companheiro, um agricultor familiar e um lider a quem devemos homenagens. também se encontaram o Jorge Antonini, o Helder Machado, o Adão (lembram dele? gande companheiro, grande companheiro, já partiu, mas devemos incluí-lo nas homangens póstumas!)
Tem outros que não lembro agora. Da arquitetura estavam o Cupertino, o Leonardo Carúcio, o Guto...
Esse grupo organizou-se e partiu para a luta política na universidade, tornando-se orgânico. Alguns se vincularam ao MDB, participou do IEPES, com o apoio do André Foster, do Antonio Voltan, do Alceu Salomoni (todos da APML) e ampliou a luta para o trabalho de bairro, fábricas, sindicatos, áreas rurais, etc. Parecia coisa de doido para quem mal conseguia se organizar dentro da universidade. O nosso tempo era todo dedicado a luta política. Achavamos que iamos mudar o mundo. Não havia temor da repressão.
Lembro que fui membro do Conselho Universitário, representando os estudantes, e que o General Edson Vignoles me chamava quase todos os dias para ameaçar com expulsão, prisão, etc.
Tinham chegado uns livros doados pela Academia de Ciências da URSS à Faculdade de Arquitetura da UFPEL. O reconhecimento da faculdade dependia da existência de uma biblioteca, mas o general se negava a liberar os livros, pois vinham de um país comunista, eram perigosos, podiam conter técnicas de comer criancinhas. Eram livros de cálculo diferencial, de geometria descritiva, de desenho técnico, etc.
Também tinha só um aparelho de topografia para atender aos estudantes da agronomia, da engenharia agrícola e da arquitetura. O general dizia que a universidade não tinha dinheiro, que tinhamos que nos contentar com isso.
Então, resolvemos fazer da necessidade de aquisição de mais equipamentos de topografia um motivo de união e de luta, juntando até quem não tinha consciência política, mas queria aprender. Isso juntou muita gente.
Um dia fui chamado à PF, em Rio Grande, e levei um tapa na cara de um polícial. Mas não me amedrontei. Como dizemos aí, não está morto que peleia! O Coelho deve lembrar que a gente fazia reunião política no meio do campo de futebol da Medicina, à noite, ao lado do 9º Regimento de Infantaria, durantes as festas de sábado da Medicina.
Nessa ótica da ampliação da luta política, lançamos o Flávio Coswig como candidato a Vereador pelo MDB Jovem, conseguindo o apoio do Partidão. Eu coordenei em Pelotas a campanha do Eloar Guazelli, do Dulphe Pinheiro Machado, ambos do PCB e, principalmente, do saudoso e grande companheiro André Foster.
A propaganda foi feita num mimeógrafo a alcool, num pardieiro na rua XV, onde habitavam o Flávio, o Jorge e o Adão. O Arthur Pereira também estava junto. Era muita discussão, no frio do inverno, com um garrafão de vinho ao lado e muita discussão. pela madrugada adentro. Faziamos comícios relâmpago nas paradas de onibus, com um megafone, enquanto alguns faziam a panfletagem. Portas de fábricas na madrugada eram panfleteadas, com chamadas de ordem contra a ditadura militar e pela organização de sindicatos e organizações de bairro e de agricultores familares.
Chegamos a 1978, com o MDB vencendo a eleição para a Prefeitura de Pelotas, com a vitória do Irajá Rodrigues. O Edgar Klever, à época, e foi Secretário de Planejamento e deu guarida a ação da esquerda, que teve na Secretária um importante baluarte.
O Rogério Gutierrez, a Esther Bendjóia, a Rosa, o Danilo Rolim, o Fachini, o Voltan, o Alceu Salomoni e outros que ali estavam também tem que ser lembrados e incluídos.
Daltro, Cecília Hipólito, Nenê, Frankão, Frank, eu mesmo, entre outros, assumimos a AMP, pela qual fomos delegados à 1a. CONCLAT, já em 1981, na Praia Grande, em São Paulo. Tivemos uma greve histórica dos funcionários municipais. O Daltro saiu da assembléia com uma crise de coluna, consequencia da tortura sofrida na prisão, e eu tive que assumir a direção da mesa. Foi foda! Achavamos que não era hora da greve, mas ela saiu, e tivemos que assumir a frente da negociação. A Cecília Hipólito lembra bem desse epísódio.
Foi no bojo desse processo de lutas que essa grande companheira Cecilia Hipólito elegeu-se, alguns anos depois, Deputada Estadual pelo PT.
Como podem ver, num breve relato histórico, um movimento que surgiu espontâneamente gerou uma organização que logo somou-se aos outros movimentos sociais que começaram a pipocar pelo País e terminou com o movemento das Diretas Já e a Constituinte.
E, é importante fazermos essa retrospectiva, pois não se trata de saudosismo juvenil, mas de, além, é claro, de nos reencontrarmos, fazer uma reflexão sobre o que representou isso para nossas existências e o que representa para o País num momento de mudanças efetivas e avanços incontestáveis. Mas não podemos perder a perspectiva da necessidade de aprofundar a democracia, o que requer grande maturidade da esquerda. Se é certo que ampliamos, a divisão da esquerda igualmente nos impingiu derrotas profundas nas últimas eleições. Vide Porto Alegre, Pelotas, Caxias do Sul, Santa Maria, só para ficar no RS.
De uma ou outra forma, cada qual ao seu modo, na área pública ou privada, todos os que participaram desse maravilhoso período tiveram e tem contribuido para o aprofundamento da democracia e da justiça social no País.
A formação que essa geração teve, escola alguma jamais poderá oferecer, só a democracia e a liberdade poderão.
É esse o legado que temos e que podemos oferecer aos que nos sucederam, em momento histórico diferente, com desafios outros que não tinhamos então.
Voltando a 1978, quero lembrar que aqui em Brasília ainda tem o Duda, o Alemão Chucrut, o Nelson Avozani (parece que está em SC) o Jorge Antonini e a Ione, o Lúcio Vaz, a Regina Alvarez. Não sei por onde anda o Arthur Pereira, se está por aqui, pois faz tempo que não o encontro. O Gastalzinho está no Senado, não o vejo há tempos. Coelhinho, grande camarada, está na Saúde (?). O Klever também vive aqui. Tem mais gente por Goiás, Mato Grosso, Rio de Janeiro (Cupertino), Santa Catarina (Helder Machado, em Concórdia e outros, lá por Chapecó). O Cristophe Delanoy está em Franscisco Beltrão/PR.
Não podemos esquecer do pessoal da Livraria Palmarinca, o Rui e o Hermes, que abasteciam a nossa formação política e o debate ideológico.
Por influência deles abri a Germinal Livros, que depois vendi para a Cecília Hipólito. Lembro que tinha uma coleção das obras completas do Lenin, de 62 volumes, editada pelo Fundo de Cultura do México. Sensacional. Isso me causou muitas ameaças de bombas, telefonemas anônimos e acusações, por ser uma livraria comunista, o que me levou a expor um volume do Mein Kanpf, do Hitler, para tentar neutralizar as ameaças. Não funcionou. O Mein Kanpf era proibido no Brasil. É certo que não li tudo. Pudera, 62 volumes, em espanhol, mas nas horas vagas pude tirar muitos ensinamentos.
Um castelhanos sempre entrava na livraria quando eu não estava e fazia ameaças ao funcionário. Um dia eu estava chegando, e cruzei com o dito cujo. Descobri que vivia numa pensão na rua Anchieta. Diariamente eu ficava esperando que ele saísse e passei, então, a seguí-lo, mas de forma que me visse. Inverti o jogo. Terrorismo por terrorismo, eu também sabia fazer um pouco. Logo, logo ele sumiu da cidade.
Noutras vez entrou um gringo, às vesperas da chagada do Reagan ao Brasil, dizendo que tinha perdido os documentos, todo o dinheiro, e que viu uma livraria comunista e resolveu pedir ajuda. Postou-se diante de um poster do Reagan segurando a Margareth Tatcher nos braços, ao lado de um cogumelo nuclear, dizendo Gone with the Wind, publicado pelo Partido Socialista inglês, e disse que era do Partido Comunista. Ficamos num bate-boca e eu acabei mandando ele procurar a assistência social da Prefeitura.
A propósito, a esquina onde ficava a livraria, um prédio em estilo neoclássico, de cimento penteado, é hoje um estacionamento. A cidade também mudou, para melhor ou para pior? É uma questão. Quando a gente vem de fora, depois de muito tempo, nota as mudanças.
Bom, esses são outros lados desse formidável processo. Coisa de doido. Mais surgirão.
O Coelho sugeriu uma reunião no meu restaurante em Brasília, mas eu já o vendi há tempos. Estava na Câmara, como assessor do Dep Assis do Couto, do PT/PR e agora estou na Assessoria Especial do Ministro da Cultura. Já estava com o Gilberto Gil e continuo com o Juca Ferreira. A reunião pode ser na minha casa, ou em algum boteco da cidade.
1) Concordo com a realização do encontro em Março, como proposto.
2) Acho que se deveria organizar uma exposição de fotos, documentos, além de filmes ( Breno parece que tem isso).
3) Os debates devem ter a retrospectiva histórica, mas devemos avançar para a analise da conjuntura atual e perspectivas para o País.
4) Acho que todas as tendências estarão representadas. Pode-se pensar no lançamento de uma carta chamando pela união das esquerdas contra a possibilidade de os neoliberais paulistas retornarem ao poder.
Bem, essas considerações são para começar minha participação nesse grupo. Pretendo retornar com outras, específicas, sobre o processo de construção da CONSTRUÇÃO.
Certamente, a "República Livre do Laranjal" terá seu lugar histórico, hilariante e festivo! Fleck, André, Léo e eu temos muitas histórias para contar.

CARTAZ DA CHAPA CONSTRUÇÃO

Este é o cartaz da chapa Construção, que ganhou as eleições (prévias diretas para o DCE) e depois deu origem ao DCE Livre.

CHAPA DCE UFPEL "FAZ A HORA"

Em pé: Ricardo/Vagareza (Arq), Joubert (Med), Ellemar (Agr), Jacira (Agr), Lilian (Vet), Paulo Santos (Vet), xxx, xxx

Agachados: Leo Venzon (Agr), Rita (Agr) , Marga (C.Dom?), Rosane (Pedagogia), Noeli (Ed.Fis.), Itamar (Med), Boanerges
(Med), Ivanir (Vet), xxx, Toniasso??? (Odonto), xxx

A RESISTÊNCIA DEMOCRÁTICA

Por Ricardo Almeida
"O importante é que a nossa emoção sobreviva" - Eduardo Gudin e P.C.Pinheiro

Parafraseando Sartre, eu me arrisco a dizer que nunca nos sentimos tão "livres" quanto na resistência democrática. Cada gesto nosso durante a ditadura representava um engajamento, e a conseqüência poderia ser o isolamento, a prisão ou até a morte. Naquele período tiranizado, foram os estudantes, junto com agricultores, operários, políticos, religiosos e intelectuais, que resistiram de uma forma mais intensa e decisiva. Num primeiro momento, aguardávamos a volta dos exilados na esperança de que houvesse uma salvação nacional, com novas ideias para melhorar o mundo e as nossas vidas. Depois, embarcamos na leitura dos clássicos e de todo tipo de reflexão filosófica, política e existencial que havia sido produzida nos séculos 19 e 20. Tínhamos uma forte influência daquela rebeldia originada em maio de 68, na França, da guerrilha latino-americana e do Woodstock . Aos poucos, as visões iam se clareando e a gente vivenciava um sentimento misturado de liberdade e de prazer. Muitas polêmicas, risos, trabalho e sexo, com algumas drogas para suportar as contradições da vida ( o álcool e o açúcar também são drogas, hein!). Ali, naquele momento específico, a política se misturava com muita ousadia e prazer. A aquisição de novos conhecimentos e a busca por uma utopia libertária e subsversiva ia se realizando intensamente em cada um de nós. Ao mesmo tempo estávamos expostos a uma situação-limite e vivendo contradições de verdades subjetivas/objetivas da nossa diversificada condição humana, assim como confrontados com algumas escolhas difíceis, muitas delas extremas e urgentes que pareciam só depender de nós.