REPRESSÃO NO CONE SUL

Por Ricardo Almeida
Não lembro o ano, mas fizemos a apresentação do filme 25, de José Celso Martinez, sobre a Independência de Moçambique. Foi no anfi-teatro do Gonzaga (?)... Tudo uma maravilha até que, ao final da apresentação, ficamos sabendo que uma francesa da equipe que trouxe o filme estava levantando informações sobre a repressão no Cone Sul e tinha sido identificada pelas "forças da repressão" uruguaias. Ela estava num hotel do Chuí uruguaio, mas quase sem contato com a equipe (lembrem que ainda não existia celular e nem internet), e não conseguia atravessar a fronteira, pois podia ser presa. Até hoje, não sei bem toda aquela história e no que que deu... O engraçado é que reunimos todo o pessoal que estava por ali e fomos para o apartamento do Glauco e da Nadija, que era quase que um "aparelho" de planejamento e ação em Pelotas (assim como outros aptos. e casas que se abriam). Escutei atentamente os discursos e discordei logo de cara, pois achava que muitos estavam tratando do caso como se fosse um filme do James Bond. Eu estava acostumado em atravessar a fronteira, pois vivi quase toda a minha infância e juventude em Livramento-Rivera, e percebia que a questão era muito mais simples do que alguns argumentavam. Não deu outra: me indicaram (hehehe), junto com o Flávio Coswig para irmos até lá. Depois, pegamos a Adalgisa e, ainda de madrugada, partimos no carro do Flávio para o Chuí. Lá estariam esperando o seu Elon e a dona Eni, pais do Glauco e da Nadija (grandes pessoas, que merecem um capítulo só para eles). Eles eram muito conhecidos pelos guardas da alfândega e se dispuseram a correr aquele risco. Combinamos tudo, inclusive se desse problemas: Seu Elon, dona Eni (um casal) e eu atravessaríamos a fronteira e eu desceria no hotel Casino, onde ela estava hospedada. Aconteceu mais ou menos o seguinte ao chegar na portaria: - Buenos dias, señor... La Señora Beatrice, por favor... etcetera e tal... O porteiro me indicou o número do quarto e eu segui em frente. Bati na porta e ela foi aberta por uma linda loira francesa... Entreguei o bilhete que haviam me dado e ela me disse, com um sotaque afrancesado:
- Parrece un film du James Bond.... Hehehehe
Eu era tímido pra casseta, mas tudo
isso ficou gravado na minha memória.
Atravessamos tranquilamente a fronteira... Sempre conversando, para não chamar atenção.. . Ela fumava o tempo todo (sem parar)...
Até chegarmos novamente em Pelotas...

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