CONTROLE DA SITUAÇÃO

Por Breno Correa Filho
Isso aconteceu em 1977, um ano antes da manifestação na Praça do Direito, este episódio mostra como o regime da repressão tinha o total contrôle da situação.
Foi anunciado com antecedência a data que o então General Presidente (como dizia o Deogar Soares)Geisel viria a Pelotas, para inaugurar a barragem eclusa, os jornais divulgaram todo o trajeto que iria fazer a comitiva, estava inclusive previsto um itinerário grande pelo centro da cidade.
Lembro que na véspera tinha uma turma grande reunida no Saraú, lembram onde ficava? Ficava o Saraú junto ao posto de gasolina na Av. Bento Gonçalves esquina com a Anchieta, e pegado a ele o primeiro Beko, lembro até hoje que na parede tinha um autógrafo do Juca Chaves que era preservado pelo proprietário com um vidro em cima.
Bom, mas a turma toda (que não sei precisar os nomes, mas eram os de sempre) estava lá discutindo o que poderia ser feito para marcar nossa posição quanto ao regime vigente na passada deste personagem pela nossa cidade. Eu estava com o meu porta-malas (não sei se agora é com hífem ou não)cheio de tubos de spray vermelho, e a idéia era usa-los para escrever palavras de ordem pelo trajeto que o Geisel e sua comitiva iriam fazer.
A noite foi avançando e o pessoal dispersando, uns pelos efeitos da wodka outros por prudência mesmo, até que restou eu e o Titino (administração UCPel), ofereci-lhe uma carona e assim que ele embarcou apagou no banco do carona, pronto, não era uma parceria ideal para a empreitada mas era melhor do que nada (somente anos depois ele veio a saber do que participou).
Começamos então a percorrer todo o trajeto que no dia seguinte a comitiva presidencial iria fazer no centro. Foram mais de 6 tubos de spray para escrever no asfalto com letras de mais ou menos 50 cm de altura aquelas palavras de ordem de sempre: "Fora Geisel", "Fora Geisel e seus Minístros ladrões", "Abaixo a ditadura", "Pelas Liberdades democráticas", etc...
Tudo muito calmo, não apareceu ninguém, ninguém nos importunou, foi um trabalhinho fácil, deixei o Titino em casa e me recolhí, loco de faceiro com o que tinha feito.
Manhã seguinte lá pelas 10:00h fui caminhando (achei melhor deixar o carro pois a paranóia me dizia que alguem poderia ter visto a placa) até o local do desfile só para sentir a reação... Bah, tive uma surpresa daquelas: não tinha o menor vestígio do que eu tinha feito.
Nada mesmo, nem uma mancha de tinta vermelha, nem um borrão.
Realmente, eu não sei como a repressão fez aquilo!
Que pena...

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