O Coelinho (med) comprou uma velha impressora off-set com o dinheiro arrecadado na boite da Leiga. Fui convidado por ele e assumi a incumbência de imprimir os panfletos contra a ditadura a serem distribuídos dia 31 de março. Entre outras coisas, ele tratava de culpar a repressão militar pela morte do estudante secundarista Edson Luiz em São Paulo, numa manifestação estudantil. Fomos avisados (na Leiga, onde encontrava-se a off-set), por um telefonema, que os milicos estavam vindo nos prender. Colocamos os panfletos e a off-set no fusca do Vagareza, fomos até a praça Cel. P. Osório e, como eu tinha a chave do lago da praça onde eram guardadas ferramentas de jardinagem, apanhei uma pá e uma picareta. Fomos até o laranjal, ensacamos os panfletos em sacos de lixo de plástico azul claro e lacramos com fita crepe, abrimos um buraco na areia da praia, colocamos os panfletos e cobrimos com areia. Fizemos um mapa do local. A off-set foi levada para meu apartamento (que ironicamente era na vila militar). Os Teodolitos e outros materiais passaram a ser impressos na off-set. Um ano após desenterramos os panfletos e distribuímos, no dia 31 de março.
Por Ricardo Almeida
Entrei para o movimento estudantil como um bom “pintor de faixas”. Acho que é assim que todos entram em uma nova organização: com humildade e dedicação total, para logo conseguir a aceitação do grupo. É que eu tinha um pouco de familiaridade com os pincéis e essa era a melhor forma que encontrei para colaborar com aquele processo novo e ousado. Lá em Livramento a gente agitava bastante, mas era no campo das artes e da cultura. Antes disso, havia sido vice-presidente do meu grêmio estudantil e a minha turma de amigos costumava promover eventos pela cidade. Um deles, lembro, foi a Semana de Artes, que levávamos arte para os bairros da “periferia”. Ou seja, eu já tinha um pouco de vontade política e experiência, e isso me facilitou bastante na minha chegada a Pelotas. Mas o melhor de tudo é que logo encontrei o Leo Venzon, um propagandista de primeira grandeza, que fazia jornais, cartazes, faixas, piruetas e tudo que fosse necessário para divulgar as nossas idéias. Ou melhor, quase tudo! Ele era ousado mesmo! Só para dar uma idéia: na véspera das eleições de 78 o campus amanheceu coberto de verdadeiros outdoors da chapa Construção. O Leo e eu (não lembro se havia mais pessoas) acordamos cedo e fomos para o campus com uma escada e uma pilha de cartazes da chapa (aquele com as mãos e os tijolos, feito pelo Lúcio Vaz). Escolhemos as melhores paredes... E nelas fizemos uma composição de cartazes que resultava na palavra “DCE”. Uma maravilha de resultado estético que já mostrava uma grande diferenciação e capacidade de convencimento. Vocês lembram das paredes do RU? Elas davam para todos os lados... Estavam de frente para quase todos os prédios do campus. Na chegada dos ônibus, aquilo se transformou num belo elemento “surpresa”, que só podia surgir de uma cabeça super criativa. Grande Leo Venzon!
Até hoje tento definir o peso que aquela ação deve ter tido no resultado das eleições, pois lembro que o resultado foi super apertado e dependeu da defesa intransigente dos votos da Educação Artística (Que eram nossos!)
LEO, o comentario a seguir vem quase das "brumas" da memória no passado... O fuca em questão era meu, e entupido de panfletos, fomos após pegar as pás até o Totó e não gostamos das alternativas para enterrar os panfletos... depois seguimos até a Barra do Laranjal e lá enterramos... como sempre com aquela paranóia de estarmos seguidos pela policia... no carro alem de mim e tu, ia o Caduto (que também era da Medicina-UFPEL). Foi um periodo muito especial, e agora que estamos meio velhosm carecas e gordos, bom de lembrar. Grande abraço, Lucio Castagno.
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