A BOATE DO DIREITO DA UFPEL

Depoimento de um ex-cara do som, Itiberê

A mim me disseram uma vez que a boate do Direito remonta aos anos 60, mas nessa época ela ainda se chamava, com inocente e cega justiça, "Balança". Que depois teria sido fechada no início dos anos 70 pela ditadura militar. Mas ela, sem trocadilhos infames, reabriu suas portas com a abertura lenta e gradual, com a anistia ampla, geral e irrestrita, com as greves do ABC, com o choro do Brizola por causa da Ivete Vargas, e com a reorganização do movimento estudantil contra os milicos, tudo no final dos anos 70, misturado com a sunguinha de crochê do maior vendedor de livros dessa época, o companheiro e macho crepuscular Fernando Gabeira.

A partir daí, a boate do Direito virou ponto de encontro, dança e desbunde da militância estudantil contestadora (desbunde já era uma palavra ultrapassada praquela época, mas azar). Uma boate com som "alternativo" e "anticomercial", um reduto de resistência politizada e esclarecida contra o óbvio ululante (ah, o anjo pornográfico e reacionário!). Contra a caretice e contra a dominação. E contra a espoliação, e contra o imperialismo, e contra o capitalismo. E contra todas as cacofonias. E na direção da liberdade de expressão. De todas as liberdades. Como não?

Sim, havia liberdade de expressão naquele pedaço de porão envelhecido e úmido, literalmente soterrado pelo mármore soturno e sombrio da Faculdade das leis e da ordem e do progresso. Pro lege quamvis contra jurem. Assim que era tanta fumaça de maconha no ar que lembrava o gelo seco dos bailes de debutante - chapando de carona até os que protestavam contra aquele cheiro de lentilha em panela de ferro cozinhando em fogo baixo e que dominava o ambiente. Mas tinha, como sempre, uma minoria, que era o pessoal da química, uns movidos a ligantes, outros a panquecas. Pros ligados, o santo-mor era o Hypofagin, circundado, à esquerda e direita, por Inibex, Moderex e Dasten-plus (não faço a mínima idéia se escrevi correto o nome dessas anfetaminas). Já os panquequeiros se saciavam de início com Mandrix e Mandrax, e mais tarde, depois da proibição dos ditos, lhes restou a possibilidade do Optalydon e do Artane.

E todos os sexos eram válidos, e toda forma de sexo era válida. Dentre essas tantas espécies, o sexo heterossexual rolava pele na pele. Nada de comer banana com casca, porque era um tempo em que a penicilina era por assim dizer a panacéia última, isso caso fosse necessária. Sexo sexualizado, esse, e todos os outros, que certamente nem sexualizados eram, geralmente aconteciam no corredor da escadinha de madeira do lado direito de quem entrava, e que subia direto do porão pro saguão da Faculdade. Assim que era ali que compareciam heteros, homos, bis, tris e pansexuais de todas as raças, cores e espécies.

Enquanto isso, quem ainda lembra de que tocava prá dançar o Língua de Trapo ("ao lhe pediiiiiir em casameeeeento, esqueci de lhe dizer, que eu não sou o rapaz normaaaaaal, que você esperava teeeer...") ou o Premeditando o Breque ("Era um domingão, tinha muito soool...")???

E daí que não demorou muito prá boate do Direito receber do seu fiel, e valoroso, e descolado público o honroso título de "Sanatório" - e o honroso lema "onde os loucos se encontram". A música do Chico foi só a pá-de-cal prá o Sanatório geralizar (sim: geralizar) a coisa. A coisa. A coisa. A coisa. Tens uma coisa aííííéeeennnn? Bueno, era tanto carinho que o neném recém ressuscitado acabou sendo chamado pelo ainda mais carinhoso diminutivo de "Sanata". Tinha até um estandarte, que aparecia empunhado com força nas festas, e que tinha escrito no pano que "Temos o direito de sanatear". Lembrando essa época, e ainda resistindo bravamente, só resta o trêiler de lanches na frente da praça da Faculdade, o Sanata Lanches. Até mesmo o seu Luís meio que perdeu as esperanças conosco, terráqueos, e foi preparar seus maravilhosos baurus "especial cum ovo e bêicon" perto do festerê de São Pedro.

"Minha primeira vez" na boate do Direito foi certamente no primeiro semestre do ano de 1982, eu tinha 16 anos e ainda era gato pelado secundarista do Colégio Municipal Pelotense. Minha última vez foi lá pelo final de 1991, aliás, bastante simbólica: foi em comemoração por ter passado no concurso prá professor de Direito Constitucional da Faculdade. "Professor Auxiliar I".

Das primeiras vezes eu me lembro que tudo era ridiculamente improvisado, mas ninguém dava a mínima bola prá isso. As caixas de som, que não tinham potência alguma, ficavam colocadas em cima de mesinhas de bar, os fios ficavam atirados soltos pelo chão (e volta e meia eram arrebentados por algum dançarino bêbado, que se enroscava neles). De aparelhagem tinha somente um toca-discos e um amplificador, o que exigia do cara do som deixar terminar a música, baixar o volume do amplificador, levantar o braço da agulha, tirar o LP, colocar outro LP no toca-discos (que já tava na espera, seguro no meio das pernas do sujeito) e colocar novamente o braço da agulha sobre o bolachão. A operação terminava então com o aumento do volume novamente. Operação relativamente rápida, no decorrer da prática do cara do som.

Quem fazia essa coisa toda afinal era exatamente o "cara do som". Ainda não existiam esses rótulos abjetos como "DJ Fulano" ou "MC Beltrano". Quando muito, caso o sujeito fosse ruim de som, era carinhosamente chamado de sono-plasta. Plasta. Aliás, o amadorismo da coisa era tanto ("tens uma coisa aíííííéeenn?") que, muito tempo depois, quando eu já era o cara do som, uma vez uma guria veio literalmente me entregar em mãos um tweeter, dizendo com uma voz prá lá de agradável: "Moço, esta coisa caiu ali daquela caixa"...

Freezer ou mesmo geladeira também não existiam. Tinha uns dois ou três tonéis serrados ao meio, que o pessoal enchia de cerveja, refri e barras de gelo. Depois se tapava o tonel com um saco de estopa, pro gelo não derreter tão depressa. Serragem por cima do gelo também era outro procedimento usual. A cerveja até ficava gelada, mas sempre tinha uma besta bêbada ou chapada prá reclamar da cerveja quente. Quem não tinha grana prá uma cerveja, esse ia no Sanata Lanches e comprava uma garrafa plástica de "Creuza", a pior cachaça do oeste. Tudo com direito a ter o desenho da Creuza vestida de índia seminua no rótulo da garrafa.

Nesse tempo ainda não existia um cara do som fixo no Sanata, era uma meia dúzia de pessoas que se revezavam durante a noite, meio escolhendo músicas, meio aceitando pedidos e conselhos da estudantada. Dessa época ainda não-profissional eu me recordo do Valdecir, do Elton e do Maurício colocando som. O Valdecir, nem sei se terminou o Curso de Direito, foi morar na praia do Rosa quando o Rosa ainda não era conhecido por quase ninguém, nem mesmo pelo saudoso Carlinhos Hartlieb. O Elton e o Maurício não eram do Direito. Volta e meia ainda cruzo com eles na rua, geralmente na volta do Aquários.

O visual do pessoal freqüentador dos primeiros tempos se dividia basicamente em dois grandes grupos. O primeiro grupo era absolutamente majoritário: como eu já disse, a época era de abertura política e de volta da militância estudantil de esquerda, então era uma obrigação ética e moral do militante usar uma camiseta com alguma estampa ou frase de protesto. Óbvio que na preferência ganhava de luz aquela inevitável foto do Che tirada pelo Korda, olhando o infinito, ou seja, o tempo em que finalmente aconteceria a revolução socialista mundial (ou a revolução comunista mundial). Mas, parafraseando Bobbio, qual comunismo? Stalinista? Trotskista? Maoísta? Marxista-leninista? Albanista? Guaranítico-jesuísta? Jesus Crista?

Mas Charles Chaplin sentado ao lado do garoto, ou do cachorro, não ficava muito atrás. Tinha ainda o pessoal que apoiava os rebeldes sandinistas chefiados pelo Daniel Ortega na Nicarágua (que até hoje continua usando uns óculos fundo-de-garrafa com uma armação de tartaruga que é impossível ser mais careta e quadrado). E tinha o pessoal que defendia a Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional em El Salvador. E o movimento contra a expulsão do padre Victor Maracapillo? E o abaixo-assinado contra os massacres de Chabra e Chatila, quando Sharon era um mero general ressentido contra o holocausto judeu e resolveu dar uma de alemão nazista revancheando contra os palestinos? E a invasão de Granada pelos exércitos ianques?

E quem ainda escuta o Raíces de América? E quem tenta piratear na internet o Tarancón? Cadê o Emílio do Tarancón, que em pleno Sanata implorava de joelhos prá dançar Whole lotta love do Led Zeppelin? E a morena cantora Miriam do mesmo Tarancón? E o Belchior? Fazia um calor senegalesco de 40 graus, mas o cearense Belchior insistia, suadíssimo, suadérrimo, e educadíssimo, em ficar flertando sob gotas de suor debaixo de sua jaqueta de couro negra. Não se perguntava naquele tempo, Deus do Céu, se a casa tinha ar condicionado. Quando muito se perguntava se o pessoal do Direito não ia num dia qualquer colocar um exaustor na parede...

Obrigatório era ainda usar um macacão de jeans, uma bolsa de couro cru e tiracolo atravessada e, nos pés, uma sandália trançada, também de couro (igual ao pessoal do Tarancón, diga-se). Claro que a tal bolsa de couro era decorada com meia dúzia de adesivos com palavras de ordem. Aliás, essa é uma moda que eu acho que nunca saiu de moda. Pronto, com uma postura visual dessas o sujeito tinha passe livre na boate do Direito, inclusive com direito a camarote de gala, caso existissem camarotes de gala na boate do Direito.

Perdão, mas esqueci. Também os tantos bottons - de tantas diferentes e distintas tendências de um então recém-nascido e nanico PT, anti-soviético, trotskista e revolucionário - eram um charme a mais. E demorou tempos e tempos prá que um adesivo do sindicato polonês Solidarnösc descolasse já de velho do vidro da janela do meu quarto.

Enquanto isso as politizadas e liberadas mulheres usavam, em vez do macacão jeans (em realidade algumas também usavam macacão jeans), uma saia com estampados hindus ou, em último caso, com coloridos de batik. Sandálias eram de tricô ou de macramé. E a bolsa não era de couro, também era de macramê. Sutiã, nem pensar, pois o momento político exigia protestar contra qualquer tipo de opressão, inclusive a opressão aos seios. E depilar as pernas e braços e se pintar os lábios com batom e passar um rímel nos olhos? Quanta discussão isso gerava no meio feminino, afinal: tudo isso não passava, na opinião da majoritariedade, de símbolos dos desejos dos chauvinistas e de verdadeira submissão aos desejos desses chauvinistas.

Depois tinha ainda as camisetas das "tendências" do movimento estudantil. Sim, a esquerda festiva também se dividia num sem número de tendências, numa outra moda que nunca saiu de moda. A única coisa que muda é, volta e meia, o nome da tendência.

Óbvio ainda que tanto a sala quanto o quarto do apartamento do militante eram decorados com pôsteres com os mesmos temas e motivos. E o onipresente quadro "O quarto Estado"? Aquele que foi pintado pelo italiano Giuseppe Pelida da Volpedo no final do século XIX, que, em tons de ocre, bege e marrom, no mais puro estilo realista-socialista, retratava uma marcha de proletários grevistas e, caminhando ao lado deles, uma também proletária mãe carregando seu filho (totalmente nu) no colo. Não havia quem, ao ver a pintura, não se indignasse e acabasse filiado a algum partido comunista, fosse ele stalinista, fosse ele leninista, fosse ele maoísta, fosse ele albanês, fosse ele trotskista. Enfim, "O quarto Estado" enfeitou a sala de muito apartamento alugado pela estudantada pelotense.

Agora, impagável mesmo era uma pintura mural que ficava na ante-sala da boate (ante-sala da boate!!), à direita de quem adentrava o recinto, onde um rifle, em repetidas mutantes reproduções, ia paulatinamente se metamorfoseando num (lança-perfumado?) ramo de rosa, em perfeito botão desabrochando em flor.

Na verdade nunca ficou bem claro prá mim se quem pintou essa coisa (coisa? Tens uma coisa aí?) pensava que efetivamente se devesse ver e ler essa metamorfose da esquerda prá direita, feito alfabeto ocidental, ou se da direita prá esquerda, feito judeus e árabes - que, aliás, diga-se de passagem, entendem muito mais do que nós do babado de transformar uma rosa em rifle...

Parto agora pro segundo grande grupo da boate do direito. O grande concorrente do pessoal esquerdo-militante era o grupo (bem menor) de malucos que ainda sonhava com "Woodstock II - A Repetição", em especial se viesse a acontecer no camping do Barro Duro, num dos tantos acampamentos ecológicos que lá aconteceram. Esse pessoal geralmente vestia uma camiseta do Léééééd ou da Djeeeeeenis ou do Píínnnnk.

Mas a camiseta era pouco. Esse pessoal ainda tinha que dançar fazendo de conta que tocava a guitarra do Jimi Hendrix, do Jimi Page ou do David Gilmour. E, ao dançar tocando a tal da guitarra inexistente, escondiam o rosto atrás da cabeleira. E também carregavam Lennon, com ou sem a insossa Yoko do lado, e a letra inteira do "Imagine" nas costas da camiseta. Tinha ainda o pessoal politicamente mais abstrato, usando a camiseta (com uma gaivota no fundo) com os dizeres "Liberdade não se mendiga, se conquista". A concorrente principal dessa gaivota da liberdade era a pomba da paz do Picasso. E os tênis desse pessoal? Obrigatoriamente era um par de All Star Converse. Ou será que era Converse All Star?

Os mais alteradinhos usavam camisetas estampadas com uma folha de cannabis, pedindo a legalização da coisa. Nunca consegui entender bem por que pedir prá liberar uma coisa que, quando fumada escondidinho, aparenta provocar muito mais prazer. E já pensaram se, depois da liberação, a indústria (legalizada) de cigarros de cannabis fosse forçada a lançar, em nome do politicamente correto, produtos com baixos teores? Enfim, nunca entendi direito esse pessoal. Além disso, eles te olhavam nos olhos, caso encontrassem teus olhos (e os deles), e tudo o que conseguiam dizer era algo mais ou menos assim: "Sóóóóóóóóóóóó..." Ou, lá pelas oito da manhã, o sujeito chegava no som e dizia, inevitável: "Ichiberêêêêêêê, pôôôôô, Ichiberêêêêêêê!!!! Põe um Piiiiiinnnk aí pra nóóóóóóós".

Mais ao fundo da boate, longe das eventuais brigas ideológicas entre ser politizado e combativo ou ser roqueiro e descolado, alguns já pregavam uma terceira via. Second liners de um Mardi Gras de New Orleans (e realmente fazendo um carnaval), e na verdade muito mais identificados com os canais de Amsterdam e com o Montmartre parisiense, tinha lá no fundo da boate a militância do pessoal da área mais artística, com camisetas do tipo "Vá ao teatro" (ou ainda "Elis vive"). Que esse pessoal tenha de brilhar no teatro Sete de Abril, em vez de ser cultuado na Broadway ou no Municipal de São Paulo, é detalhe secundário e desimportante – melhor: é uma questão de elegância.

Eu, por mim, usava a camiseta branca e verde do "Atuação - A tua ação", grupelho surgido no Colégio Pelotense lá por 1982, em princípio prá protestar contra o uso obrigatório do uniforme e contra os métodos por nós epigrafados como nazi-autoritários do então Diretor de Turno. E tudo com direito a ler O Capital do Marx em quadrinhos nas aulas de História da Ondina – que também abriu mão de ficar entre nós, deve ter cansado da falta de história séria neste país. E de na aula de Religião exigir da professora que o Museu do Vaticano vendesse suas obras e relíquias prá resolver o problema da fome no mundo. Aliás, caso a direção do Colégio marcasse bobeira, estávamos prontos prá fazer a revolução, da Patagônia até o Alasca, atropelando, feito Asterix e Obelix, os bastardos ianques do Novo Império chefiados por Kid Reagan. E, se a bobeira fosse maior, então já era hora de derrubar não somente o cesarino Império, mas também a frígida e colaboradora dama de ferro, a senhora Thatcher. O falso ator Bush Jr. e o falso ferroso Blair: a história se repete como farsa, diria o velho Karl. Bueno, ao menos conseguimos terminar com a tal história do uniforme, alienadamente sem saber direito que uniforme de colégio é exatamente um símbolo de igualdade e nada mais.

Fundamental era - repito e voltando ao assunto - que tudo no Sanata era permitido. O negão Adão, por exemplo, que ao que consta veio de Palmares do Sul ou Tavares, nem lembro direito (e parece que voltou prá lá e morreu de cirrose, prá desespero de todo e qualquer mortal que conheceu ao menos de vista o negão Adão), adorava dançar em cima da mesa mais próxima, e o que sustentava ele em cima daquelas toscas mesas cambaleantes era segurar e volta e meia beber uma canha pura num copo de matéria.

O negão Lee, figura ímpar e que também sempre dispensou comentários absolutos, e só dançava de pés descalços, porque ele "precisava sentir com força o solo onde pisava". Negão Lee, o único pelotense que foi ao festival de Woodstock. E ainda por cima comeu uma loira em meio à multidão em plena tarde de sábado enquanto Santana tocava Soul Sacrifice. Aliás, platônica, mesmo, era uma outra frase que o Negão Lee dizia pras mulheres que lhe viravam a cara: "Se não dormiu com Negão Lee, então não sabe o que é bom..."

E o Paulo Américo, da Psicologia, sósia inimitável do Jerry Garcia do Grateful Dead - que fim levou o Paulo Américo? E o Lico, chegando agitadíssimo na beira da cabine da som e dizendo: "Garoto, põe por favor um Joe Cocker. Se você puser um Joe Cocker, with a little help from my friends, você é um garoto isbeautyful". Yeah, Lico! Naquele tempo eu era isbeautyful. E o Ivan, que naquela época ainda se preocupava em estudar Psicologia e cantar trechos do Radiotáxi, berrando por "minha pequena EEEEEvaaaa, o nosso amor na última astronaaaaave..."

O melô da bruxa, performatizado em plena pista pelo Albertinho Liberato, ultraconhecedor de latim pela adolescência no seminário católico, com as tetas de banlon penduradas no peito e balançando flácidas até perto da falsa vagina do mesmo Albertinho. Que depois teve problemas judiciais prá apresentar seu monólogo no Festival de Teatro de Pelotas e então foi vender poemas de paixão em origami nos bares de Pelotas (e também "caralhinhos" e "bucetinhas", pequenos biscoitos assados nas formas tais). Então o Albertinho Liberato entrava bar adentro e oferecia e perguntava pros sujeitos se queriam provar um caralhinho ou uma bucetinha. E aí jogava os biscoitinhos em forma de caralhinhos e bucetinhas em cima da mesa. Lado Esquerdo Produções Artísticas. Albertinho Liberato, poeta de poemas de amor em origami. "Ôôôi! Quer comprar uma poema?". Albertinho Liberato, ator. Albertinho Liberato, do monólogo da bruxa. Albertinho Liberato, vendedor de caralhinhos e bucetinhas. Alberto Liberato, que abriu fogo contra o peito do vizinho porque este ligava o motor da Kombi às duas da tarde, horário de sesta do Alberto Liberato. Nem sei se ainda continua um preso do sistema.

O pequeno grande Fausto Bastos, que depois de fazer a cabeça de Caetano, Gil e Bethânia no exílio em Londres, me lembrava que "It´s a long way", caro Tibiriçá, era Caetano 72. "Tibiriçááá, Tibiriçáááá, isso é Caetano 72, não? Sim, isso é Caetano 72". Fausto Bastos, cabeleireiro dos doces bárbaros ainda exilados, muito antes de serem doces e bárbaros. Fausto Bastos, irmão do Pichula Bastos. Pichula Bastos, croni-jornalista, que num dos seus tantos acessos elétrico-energéticos fundou, junto com o mecânico Vanderlei, a Garra Xavante. Precisaria o Pichula ter feito alguma outra coisa na vida?

E teve a loira sexualmente combativa que uma vez subiu numa cadeira durante uma boate ultralotada e, pensando estar lá pela ilha de Wight, fez um demorado strip tease que ninguém deu bola. Indignada, ela teve então que descer do queijinho improvisado, recolher a roupa que foi tirando e jogando no chão e ir embora, afinal, o pessoal tava tão preocupado com outras coisas, ou se encontrava em outros universos paralelos, que não tinha tempo nem saco prá ficar olhando prá strip de aspirante a streaper.

E atrás de tudo isso o negrão Hélio, de porteiro, com uma garrucha de um tiro só feita em casa, atrás da porta, segurando todas...

Aliás, a revolução na verdade só terminava na boate do Direito, pois ela se iniciava bem antes, bem ao iniciar da noite, nas mesas do bar do Pá (o Pá era um português legítimo), que ficava na esquina da Félix com a Tiradentes, onde hoje funciona um açougue - coincidência essa que talvez denuncie que tudo acabou sendo antropofagicamente digerido. Ou que virou suco.

Ou a revolução começou nas sessões de arte de sexta-feira às dez da noite, no velho Cine Rey do calçadão, onde o Galvão se postava na porta prá vender exemplares da "Tribuna da Luta Operária" (tempos depois ele colocou um anúncio no quadro de avisos da Faculdade oferecendo as "Obras Completas de Enver Hodxa", 13 volumes - não faço a mínima idéia se apareceu algum exilado albanês interessado na compra). Ouvi dizer que o Galvão virou Secretário da Cultura de Palmeira das Missões. Ou de um vilarejo que se emancipou de Palmeira das Missões e onde a família dele tinha algumas hectares de campo.

Na contraflecha do Galvão - também na porta do Cine Rey - tinha o Mário Dimas, mergulhão como eu de nascença, que oferecia aos politizados freqüentadores da sessão uma outra tendência e um outro partido, "O Trabalho".

"Z" do Costa Gavras na sessão de arte do Cine Rey. "Feios, sujos e malvados" na sessão de arte do Cine Rey. "Gaiola das Loucas" com Ugo Tognazzi e Michel Serrault na sessão de arte do Cine Rey. "Mimi, o metalúrgico" na sessão de arte do Cine Rey. "Apocalypse now" na sessão de arte do Cine Rey. "A comilança" na sessão de arte do Cine Rey. "Crônica do amor louco" do Marco Ferreri no Cine Rey. "Monty Python" na sessão de arte do Cine Rey. "Lola" do Fassbinder na sessão de arte do Cine Rey. "Sacco e Vanzetti" na sessão de arte do Cine Rey. Óbvio, seu idiota alienado, que eu assisti ao "Encouraçado Potemkin" e "Outubro" e "Alexandre Nevski" do Eisenstein numa sessão de arte do Cine Rey. E "Hair"? Bah, este acho que foi no Cine Pelotense. Uma meia dúzia de vezes no Cine Pelotense...

Enquanto isso, os shows de música tentavam valorizar a prata local. O monumental e único grupo de pesquisa de música afro Tadeu & Amigos. E na seguida o Big Degradável. E o Salsicha, vulgo Alcides Saldanha. Já o teatro era como que monopólio do 20 Prás 8 Lá no Mauá (por causa do bar Mauá, na avenida). Direção, Cláudio Penadez. Performance, Neneca.

Neneca, ah! Neneca! Neneca, minha primeira paixão platônica. Neneca me dando de presente uma foto 3X4 porque sobrou das que eram preciso prá fazer a carteira de estudante (guardo até hoje). Neneca me dando um beijo na boca como despedida pro cara do som antes de ir embora duma festa no Direito. Neneca que, me disseram, foi prá Itália e casou com um nobre príncipe da península.

Voltando aos bares, e prá realidade daquela época, além do Pá e do Mauá sobrava espaço ainda pro Bar do Delamar, pro Liberdade na Deodoro (ao lado da parada de ônibus pro Capão do Leão), pro Tulha na Senador Mendonça (quem lembra disso? Atrás do balcão ficavam a Gringa e o Alegrete), pro Trinta e Cinco na esquina da Quinze com Cassiano, pro Aos Dois Papagaios (onde agora tem uma farmácia podre de iluminada) e pro Pássaro Azul do Néri, um jurássico sobrevivente que foi adotado pelo pessoal do heavy metal e pelo pessoal gótico há muitas décadas. Último sobrevivente, nada! Esqueci do Cruz de Malta! E esqueci do Forno. E do Madelaaaaine! E do Vesúvio. Sem contar na Confeitaria Nogueira, estreitadérrima – mas prá lá de elegante, feita não prá contentar mergulhões alucinados e famérrimos por doces, mas pelotenses saudosos de uma caminhada pelas vielas do Marais e de Montparnasse.

Um destaque especial pro Bar Misturança. De uma certa maneira o Misturança deu forma ideológica prá boate do Direito. O Misturança nasceu de uma ex-república de estudantes na Quinze quase Cassiano, ao lado dos escoteiros, na diagonal do Trinta e Cinco (Valdecir, Milton Cabeleira, Paulinho Gaia, Campeão, tempos depois acho que o Barata. Esqueci algum?). Isso tudo foi quase uns dez anos antes do primeiro Bar da Beth também ali do lado, na esquina da Quinze com Cassiano.

O Misturança começou como casa de produtos macrobióticos e de chás (também naturais, mas nenhum de cogumelo). Provavelmente a crise, e também a falta de algum lugar totalmente "alternativo", fez aumentar a vontade do pessoal de experimentar mais alguma coisa misturada. Então o pessoal misturou o natural com venda de discos independentes e alternativos da Lira Paulistana e outros selos do gênero. Assim que, pouco a pouco, o Misturança também começou a vender caipirinha (com açúcar mascavo) e depois cerveja natural. E depois caipirinha com açúcar branco. E depois cerveja com cereais não malteados. E no fim suspenderam a venda de chás. Não importa, o que importa é que, nessa época, o Misturança, já absolutamente um dependente químico, virou então também um salão de festas. Festa nos fundos do Bar Misturança. No pátio dos fundos, debaixo de um pé de abacate, ao som da forrozeira do Ednardo. Tremo até hoje em cima de meus calcanhares.

Ali por volta de 1983 surgiu o primeiro "profissional" do som no Direito, o Marquinhos Baltar. Foi ele também quem consolidou "as bases do som do Direito", com muita música brasileira (repito: era indispensável que a música não tocasse nas rádios comerciais, era indispensável que ela fosse absolutamente alternativa e rebelde). Enfim, aquela coisa absolutamente alternativa e rebelde de ficar ouvindo "Transa" do Caetano, "Pablo" do Milton Nascimento, "Rock das Aranha" do Raulzito, "Pra longe do Paranoá" do Oswaldo Montenegro, muita música nordestina de raiz, tipo "Cavalos do Cão" do Zé Ramalho, mas em especial o inevitável "Pavão Mysteriozo" do Ednardo e, volta e meia, mais pro fim da festa, ao amanhecer, um Zepellin, um Purple ou Floyd prá contentar os órfãos de Woodstock.

Aliás, já nessa época tinha uma música "estrangeira" que o Marquinhos botava prá todo mundo fazer coreografia woodstockiana: "Aquarius", do Hair. Além disso, o Marquinhos era um grande comedor. E nem precisava cantar as madames sem soutien e saias de batik, elas mesmas se enfiavam na cabine do som e, quando a luz da cabine do som se apagava, todo mundo já sabia: lá tava o Marquinhos nas preliminares, com esfregação e língua, pronto prá papar mais uma. Enfim, o Marquinhos papou todas as mulheres que quis e inclusive outras que ele nem queria papar, mas que foram lá se fresquear e por isso também acabaram entrando no laço. Ele ficou tão famoso (e comedor) no som do Direito que lá por 1984 ele literalmente se profissionalizou e acabou sendo contratado prá ser o cara do som da Quilombo.

Bueno, tendo o Marquinhos ido botar som em outras paragens (e também ido comer outras mulheres em outras paragens), entrou no som do Sanata o Rodrigo Padilha, que ficou até o início de 1985. Nessa época o público do Direito meio que havia se bandeado prá boate da Odonto, que era uma boate do Direito muito mais provinciana e mais careta, e que assim continuou sendo sempre assim. Já outros se aburguesaram, cortaram o cabelo, passaram a tomar banho regularmente e foram freqüentar, cabelos cortados e perfumados, lança-perfumadíssimos, o Verdes Anos.

Enfim, surgia a Nova República do Tancredo, ao som de Coração de Estudante do Milton e aos peitos da Fafá, e a estudantada se dividiu entre os que aderiram e os que não aderiram (não aos peitos da Fafá, mas às planícies de Dona Risoleta Neves). Comunistas e peemedebistas prum lado, petistas e pedetistas pro outro. E o Rodrigo acabou então saindo do som por culpa da crise e divisão da esquerda.

Ah, 1985! Todo e qualquer xavante, os verdadeiros xavantes! Eu falo daqueles xavantes que juram que não vão morrer sem ver a dupla Gre-Nal, sim, os dois da dupla, o nêgo Saci duma pata só e o Mosqueteiro branquela e bigodudo, juntos e abraçados disputando a segunda divisão do campeonato gaúcho! Pois oitenta e cinco foi aquele ano do xavante no terceiro lugar do Brasileirão, isso tudo depois de nos passarem a perna por abuso de poder econômico e contravencional do então quadrilheiro, mafioso e empresário zoológico Castor de Andrade, protegido da Globo carioca do Doutor Roberto Marinho, aqueloutro dizem dador de uns não sei quantos mil cruzeiros pro presidente de plantão da então CBF, prá fins de transferir a semifinal com o Bangu no Bento Freitas pro Olímpico em Porto Alegre.

Só que antes dessa roubalheira descarada teve Bira dando cambalhota prá trás na frente do Fillol. Júnior Brasília fazendo gol de Sobrenatural de Almeida (ele de novo...). Doraci, Lívio e Andrezinho detonando com Júnior, Adílio e Zico. Gílson metendo gol de bicicleta de fora da área contra a Ponte Preta. E fico por aqui, que é prá não ter vontade de bater uma punheta bem batida por causa daquela época. Puta que pariu!

Bah, indo de embalo na batida da Garra Xavante e na inspiração do nome da torcida organizada mais carismática daquela época, a Gang da Farinha, o fato é que eu tou chapado até hoje com aqueles jogos do xavante! E a la mierda! Antes de tudo isso eu acho que foi naquele aperitivo de 1984, quando enfiamos 4 a 0 em pleno primeiro tempo no Grêmio e fomos vice-campeões gaúchos, que então não sobrou um triste galho de plátano na Princesa Isabel.

A lembrança aparenta ser tão antiga, e na verdade é tão presente, que eu acho que o narrador da TV ainda é o Adalim Medeiros e a rede ainda é o Canal 4, Televisão Tuiuti. Puta que pariu! Puta que pariu! Fazendo contas de cabeça, na verdade o Adalim-narrador reclamou dos erros do arroiograndense Tino, ou elogiou um gol do Tadeu Silva, ou mesmo explicou prá xavantada por que o Otávio foi contratado. Ou por que o Jorge Luís terminou com o Atlético Mineiro. Mas isso já foi bem antes, lá por 1978 ou 1979.

Bueno, mas foi então em maio de 1985 que entramos no comando do som do Direito eu e o Hélio Oliveira, ou Hélio Mutuca, depois Hélio Cubatão, para os mais chegados, porque o sujeito (igual a mim) era de uma magreza extrema, mas ainda assim ficava com o cigarro pendurado nos dedos, igual às chaminés de Cubatão, que na época davam reportagem de domingo no Fantástico como a cidade mais poluída do mundo. As crianças sem cérebro de Cubatão.

Pois eu e o Hélio Cubatão já trabalhávamos em dupla desde 1983, nas boates de verão do grandioso Hermenegildo Praia Clube, sito por supuesto na praia do Hermena (mais adiante ainda fomos os primeiros hermenegildenses a invadir o Beira-Mar, na Barra do Chuí, mas isso já são outros quinhentos e fica prá outra história – só um mergulhão entende a briga secular entre Barra e Hermena). Hermena que viu nascer nessa mesma época o Sanatório Geral, bloco de carnaval inspirado tanto no Francisco de Hollanda quanto no Sanata pelotense.

A rigor, lá por maio de 1985 a coisa andava tão ruim prá boate do Direito que na nossa primeira noite no som somente seis pessoas pagaram ingresso. Melancólico. Mas pouco a pouco a coisa foi melhorando. O pessoal do CAFV virou tipo profissional da noite, desenvolveu miles de planos que fariam avermelhar os melhores publicitários da época, fez melhorias do tipo cerveja mais barata e nova aparelhagem e novas caixas de som. E colocou um puta dum exaustor tanto prá resfriar o ambiente quanto prá espantar o cheiro de lentilha cozinhando em fogo baixo. A Brahma (que ficava na Benjamin) emprestou uns freezers, e o Seu Nonô da Brahma nos garantia provisão extra de cervejas. Tudo isso somado a uma fantástica coleção de discos que o Hélio Cubatão tinha, com um monte de raridades, e aí a boate do Direito relevantou o moral e acabou se transformando na Meca pelotense.

Pra completar, o Hélio Cubatão radicalizou o estilo de som do Marquinhos. Sim, ele foi direto prá loqueios que nem antes eram tão independentes e rebeldes e marginais. Fenomenal garimpeiro de discos que era, conseguiu inclusive fazer contato com sebos de discos de São Paulo, como a então ultra-alternativa e cult "Pioneira dos Independentes", a Baratos Afins (Avenida São João, 439, 2º andar, lojas 314/318). E então pintaram músicas que grudaram de um tal jeito no gosto dos pelotenses que até hoje continuam tocando na Federal FM e na RádioCom. Páginas musicais do tipo "Minha menina" ou "2001" dos Mutantes, "Eu quero é botar meu bloco na rua" do Sérgio Sampaio, "Mestre Jonas" do Sá, Rodrix e Guarabyra ou mesmo "Sandra" do Gilberto Gil.

Era um tempo em que um telefonema interurbano custava o preço de um carro 1.0 e Internet era coisa de segurança militar norte-americana contra os soviéticos. Imaginem então ligar em horário comercial prá sebos paulistanos prá comprar discos independentes. Talvez por isso eu guarde até hoje uma carta da Baratos Afins onde me informavam que o preço dos discos do Walter Franco era "um pouco salgado" (andávamos eu e o Hélio em busca do mantra "Coração tranqüilo", cuja beleza dispensa qualquer comentário e cujo disco, naquela época, só o Marquinhos Baltar tinha. Estávamos órfãos do Walter Franco).

Nem tudo eram flores, a gente também pensou que poderia "renovar" o som direito com o rock brasileiro então emergente. Mas o rock brasileiro anos 80 era tachado de coisa de estudante burguês de classe média. Tanto assim que, na primeira vez que o Hélio inventou de botar "Geração Coca-Cola" do Legião prá tocar, uma garrafa de cerveja explodiu na parede da gabine do som, atirada por uma loira que até bonitinha era, e que eu não lembro o nome. Justificativa da loira engajada: "Eu não vim aqui prá ouvir rock pequeno-burguês, bota aí um Raul ou um Arnaldo Baptista..." Daí que foi preciso que tempos depois os Titãs lançassem o Cabeça Dinossauro e se tocasse "Polícia" sem parar prá que a estudantada começasse a achar que também o rock brasileiro anos 80 tava meio que do lado deles.

De certo modo eu tenho que dar razão prá loira que não era feia. Imaginem o que era prá um estudante combativo e politizado passar a plena manhã e a inteira tarde de sexta-feira apreendendo o conceito de "aparelhos ideológicos do Estado". Ou até mesmo tentando compreender por que o trosko do Althusser estrangulou a pobre da esposa. Ou analisando os novos rumos dados ao movimento pelos gramscianos Cadernos do Cárcere. Ou ainda fazendo um puta dum esforço intelectual prá tentar entender o que o Foucault efetivamente pretendia com a revitalização do conceito de Panopticum do Bentham. Vai daí que, tentando desanuviar a cabeça com tão candentes problemas, a militante vai na sexta de madrugada prá boate do direito e, lá chegando, ouve a esganiçada voz do Herbert Vianna (integrante dum trio nascido prá imitar descaradamente o The Police) cantando uma crise existencial pelo fato de usar óculos. Enfim, muito certamente a loira tinha uma ponta de razão. Foi mesmo sorte que a garrafa explodiu na parede da cabine do som.

Mudando de assunto, o Hélio Cubatão não se contentava em colocar música. Volta e meia ele inventava umas novas mímicas e passos de dança e ia pro meio da pista fazer uns movimentos plástico-coreográficos, do tipo o "passo do velho", que era um passo de dança que era dado pelo Velho. Seis da manhã lá tava o Velho, esperando a festa terminar prá juntar as garrafas na boate. Então, enquanto a festa não terminava, o Velho participava da dança. Ele fazia que ia com a perna direita, e então adiantava dois passinhos a esquerda. Uma baita sabor visual sentir o passo do Velho. Juntadas as garrafas, o Velho ganhava um vale-bauru no Sanata. Voltando ao Cubatão, ele também fazia a "dança dos primatas", ou o passo do "television man", que na verdade era uma cópia Talking Heads dum passo do Roni, alemão bailarino que, vindo de Porto Alegre ou de Canoas, não lembro direito (me deu um branco), aparecia de somenos dançando nos verões na Barra do Chuí e no Hermenegildo.

Ou então o Cubatão simplesmente ficava paralisado por vários minutos em alguma pose maluca no meio do pessoal dançando, como se no lugar reinasse, só prá ele, um grande silêncio no meio de 400 pessoas. Isso quando ele não aparecia de cabeça rapada, feita cuidadosamente com a Gilette G2 do Pacheco (o Pacheco!!!), muito antes de cabeça raspada virar moda entre jogador de basquete americano.

O fato é que o Sanata voltava a ser o velho Sanata. Sim, a cidade inteira começava a noite em algum lugar, mas o lugar prá acabar essa noite era na boate do Direito. Nunca consegui entender como é que cabiam mais de 400 pessoas dentro daquela casa estreita e velha e cheia de goteiras.

Como a festa geralmente só pegava fogo depois das 3 da manhã, antes disso o som era literalmente uma festa de pedidos feitos pelas meninas que moravam no então existente internato do colégio São José, do outro lado da rua, bem em frente da boate. Então as virgenzinhas ficavam nas janelas e, meio sussurrando, meio gritando (talvez prá não acordar as castas e enciumadas freiras), faziam delicados pedidos de música, do tipo: "Toca Tetê Espííííndola, óóóó meu amoooor, não fique triiiiiste"... Ou, então, "toca como engoma a calça"... Ou, então, "toca honey baby da Gal"...

Assim que ficamos eu e o Hélio mais de três anos corridos e ininterruptos no som do Direito, toda sexta, todo sábado, toda véspera de feriado. Infelizmente, os dois somados, não papamos nem a metade das mulheres que o Marquinhos papou.

Eram festas que só acabavam no meio da manhã. Foi até preciso o CAFV fazer um acordo com a direção da Faculdade prá evitar colisões de interesses: de sexta prá sábado as festas terminavam às 7 da manhã, afinal a Faculdade tinha aula às 8 da manhã de sábado. Mas do sábado pro domingo não tinha hora prá coisa acabar. O recorde foi num réveillon, acho que o de 1987 prá 1988, quando rolou festa até vinte pras onze da manhã, e finalmente então alguém se lembrou de fechar tudo e sair correndo: "Talvez ainda dê prá correr indo embora e ver o sol nascer no Laranjal". Ato contínuo, uma Brasília cor-de-laranja (muito antes da Brasília amarela dos Mamonas) foi lotada com umas sete pessoas, rumo estrito ao Laranjal. Sol brilhando na capota da Brasília. Óculos escuros nos rostos do pessoal.

Em setembro de 1987, o Hélio Cubatão, junto com outros mergulhões, decidiu conhecer o mundo, foi-se inicialmente prá Israel, depois girou a Europa, acho que andou também pela África e Ásia, deu uma parada em Berlim para ver o muro cair, constituiu família perto de Stuttgart e continua em Portugal até hoje. Desse tempo prá depois fiquei sozinho no som do Direito.

Aliás, 1987 não foi ano de poucas mudanças. Foi também nele que o sonho começou a rodopiar e acabar de vez. A tal da Nova República afundava com o fracasso do Plano Cruzado. A bola da vez na corrupção era a ferrovia Norte-Sul.

E o público do Sanata até continuava o mesmo, mas o cabelo já não era tão comprido e sem lavar, ele ficou mais curto e meio arrepiado. E todo mundo aderiu ao uso de brincos. Chamavam de new wave.

E assim que de repente os olhos do pessoal não ficavam mais irrigados de uma forte cor vermelha e nem o hálito lembrava uma boa sopa de lentilhas. Os olhos do pessoal agora ficavam mais brancos do que nunca, as pupilas esquisitamente dilatadas, branquérrimas, e o olhar meio que envidraçado e endurecido. Os lábios por sua vez pareciam ficar secos e os dentes trincados. E o pessoal agora dançava mais rápido e mais nervoso. E também criou-se um hábito de ficar pondo o dedo por cima do nariz e apertando a narina e depois fungando o ar em volta. Outros literalmente faziam de conta que escovavam os dentes, substituindo a escova pelo dedo indicador. Enfim, era a despedida dos produtos cannabinosos e a chegada de sua majestade La Blanca, no início boliviana, depois colombiana, depois polvilho antisséptico Granado.

E foi também nesse mesmo ano de 1987 que apareceu o primeiro caso de AIDS na cidade. Enfim, o sonho de liberação que não acabou começou literalmente a acabar. Foi a chegada do pó e do pós.

No mesmo ritmo, também o som mudava para algo um pouco mais melancólico. No fim da noite, por exemplo, no lugar de Stones, Deep Purple, Pink Floyd e Led Zepellin, outras bandas como The Cure, U2, Talking Heads e Joe Division-New Order deixavam de ser coisas estranhas. Enquanto isso, De Falla, Inocentes, Replicantes, Urubu Rei e outros grupos pós-alguma-coisa brasileiros quase que absolutamente desconhecidos começavam a dar o ar e o tom da graça. Isso sem contar o rap do Skowa e a Máfia e do Thayde DJ-Hum (muito antes de se fresquear na MTV como garoto bem comportado). Tudo gente que em vez de cantar flower & power cantava a miséria da escória favelada. Frascos e comprimidos.

Bob Cuspe e Rê Bordosa sepultavam o Ubaldo e a Graúna. E o Planeta Diário terminava com a Voz da Unidade. Isso sem falar da derrocada do Pasquim, onde os porres do Jaguar viraram uma baita ressaca.

Os bares mudavam de rota e rumo. Agora era a vez do Cais Entre Nós, do Feijão com Arroz (antes na Cohabpel, depois na Avenida com Santa Tecla, no lugar do Macaxêra), do Zero, do Supérfluo e do Essencial, do próprio Tulha migrando da Andrade Neves prá beira do campo do Pelotas, e, enfim, do Satolep. E do Viração, antes na Osório, virando Verdes Anos no solar do antigo Quilombo. Ápice de tudo isso foi a danceteria do Theatro Avenida.

Uma tentativa isolada de um verdadeiro e new wave choque cultural multi-culti-pan-sexi-tutti foi feita com o Choque Cultural, de vida curta, ali aonde hoje fica o Rua XV. Durou menos que meses, mas foi onde a homogalera de Pelotas pela primeira vez teve se estúdio 54.

Enfim, pra não não dizer que não falei das crianças, dos aprendizes e do curso elementar, de tardezinha rolavam sessões no Maçã Verde e no Mamão com Açúcar.

Aí por essa época também teve uma solitária contra-reação ideológica. Foi desbragado Bar da Polaca, que funcionava numa garagem improvisada cheia de caligrafias espontâneas nas paredes, tentava ressuscitar a qualquer custo qualquer música que fosse do Pink Floyd. E depois o Cauim, ali na Dom Pedro II, perto da Católica. E depois, na frente da Católica, o Alta Mente, nome talvez inspirado na música do cabeça-mor Walter Franco, cujo coração sempre foi tranqüilo. E a espinha sempre ereta. E a mente quieta.

E ganha um doce quem ainda souber dizer aonde ficava, nessa mesma época, o pé-sujo com um ultra-extenso corredor de entrada chamado Terminal da Curtição, que era aonde os porteiros da noite se encontravam de manhã cedo, depois de terminada mais uma fatigante noite de trabalho. Obviamente eu conheci o Terminal da Curtição (ficava na Osório, perto da Esquina dos Bohns) quando dei uma carona prum porteiro do direito. Foi ali no Terminal que uma vez o Guélo pediu um bauru temperado só com catchup, e a cozinheira, desconhecedora dos melindres da língua macbethiana, lhe entregou às nove da manhã, junto com uma cerveja quente, um bauru recheado com molho de pimenta.

Aliás, por fora ainda corria o próprio e decadente Mercado Público, onde depois das 8 da manhã era possível sentar em “A Toca”, ali no canto do Mercado de frente prá Prefeitura, prá tomar não sei se a última cerveja da noite ou se a primeira do dia, enquanto a Priscila (nome dado pelo Dondon), cheia de marcas de navalha no rosto, sentava no teu colo e carinhosamente te chamava de "meu primeiro amor" e te pedia um autógrafo. E tu escrevias, enquanto saboreavas um pastel cheio musgo no recheio: "Ao meu primeiro amor, com amor, do Chuck Berry".

E foi também mais ou menos por essa época que se inventou de sair do Sanata lá pelas 9 da manhã, todo mundo rigorosamente protegido por óculos escuros que ficavam guardados no bolso a noite toda, e ir direto saborear um bauru com café com leite no Aquários, a fim de depois ir dormir de estômago tranqüilo e com a certeza do dever cumprido. Numa manhã a gente era um grupo de uns seis notívagos amanhecidos e de óculos escuros. Chega então a garçonete e pergunta: "Vão querer o que?". O Beto Milico responde: "Sei lá, traz aí uns 20 bauru com café com leite". E vieram prá mesa exatamente os 20 bauru do Aquários numa grande bandeja de prata com frisos em ouro. E seis xícaras de café com leite.

No fim de 1988, já velho porque passado dos 20 anos de idade e recém-virado bacharel em Direito, coisa que era um pouco incompatível com as atividades de cara do som de um lugar tão bandeira e tão sujeira quanto o Sanata, decidi me aposentar e abandonei a função de cara do som. Entreguei discos e adereços pro meu irmão Taiguara, que até então jogava de ponta-de-lança nos juniores.

De minha parte foram então quatro anos como cara do som. Multiplicando duas festas por final de semana, e contando uns cinqüenta e dois finais de semana por ano, mais as festas de véspera de feriado, o número chega a umas quatrocentas festas, já descontado o "período de recesso" nas férias de verão em janeiro e fevereiro. Assim que eu devo ter assistido e participado de cerca de quatrocentos filmes surrealistas, ou expressionistas, ou impressionistas, ou contorcionistas, sempre elencados por não sei quantos atores principais e outros tantos coadjuvantes. Isso sem contar o pessoal da produção. Enfim, cerca de quatrocentos motivos prá não conseguir esquecer tudo aquilo de uma maneira tão fácil. Guardo (pretendo tudo) na cabeça. Com carinho. Com cuidado. Com paixão. Compaixão.

Bueno, o Taizinho, geração seguinte, já não se importava tanto com Bob Dylan ou Jethro Tull, mas sim com o "noooo fuuuuture" dos Pistols e dos Ramones e dos Chili Peppers. E Elba Banquete de Signos Ramalho e Gilberto Sandra Gil ficavam menos importantes que Eduardo & Mônica ou os banguelas dos Titãs. Ele ficou por lá até mais ou menos o final de 1990. Depois dele eu não sei mais quem ficou na cabine do som. Também não sei por que cargas d´agua eu disse que não ia mais botar os meus pés na boate do Direito – e eu cumpri à risca essa promessa depois da minha despedida do local em 1991.

A história mais sanateante que eu vi acontecer? Foi a história do touro zebu furioso. E não venham me dizer que se trata de história inventada por quem tomou (paradoxalmente) chá de cogumelo de zebu. Aconteceu de verdade, lá por 1985 ou 1986. Sim, era um tempo em que acontecia num final de semana uma exposição-feira de gado lá no Parque Ildefonso Simões Lopes, nas Três Vendas. E não é que numa noite de sexta-feira um touro zebu furioso, sabe-se lá como, escapou do seu confinamento expositivo, veio em corrida pela inteira Dom Joaquim, cruzou pelos edifícios da Cohabpel, e depois, tomando rumo pela Andrade Neves, inclusive dando uma passadinha pelo calçadão, atravessou a praça Coronel Pedro Osório e - obviamente sabendo que o melhor da noite pelotense era e seria o Sanata - foi parar, garboso e indomável, na praça da Faculdade, com as ventas fuçando prum amedrontado busto do polonês Chopin? E também prum outro amedrontado busto do “insígne plasmador da sociogênese riograndense”? Bah, acho que nem os bustos existem mais na praça da Faculdade...

Sim, o tal touro furioso queria porque queria dançar na madruga na boate do Direito. Vontade não satisfeita de modo efetivo, a pracinha da Faculdade se transformou numa Pamplona espanhola, com o pessoal, entre as árvores e macegas da praça, correndo, pulando e fugindo das guampeadas do touro louco - louco que ficou porque os porteiros lhe fecharam a porta na cara (melhor: nas guampas) e lhe cortaram o barato de arrombar a festa e dançar no Sanata. Imaginem o que pode um touro maluco quando os porteiros da boate do Direito lhe negam entrada no estabelecimento. Pois foi isso que aconteceu...

Eu tinha prá mim até bem pouco tempo que no fim da noite veio uma tropa da Brigada com balas anestésicas e colocou o bicho a dormir. Foi só na Páscoa de 2005 que eu cruzei no Bar do Jara com o Ratão, bageense sócio-remido de todos os Direitos e que virou causídico lá pelas bandas da matogrossense Sinop, que então me esclareceu a história toda em função de ele próprio ter sido um protagonista da própria. Exatamente ele e um amigo, de cima de uma caminhonete, puxaram uma corda de couro trançado do porta-malas, fizeram um laço e pealaram o touro maluco. O resto ficou por conta por conta dos bombeiros, que chegaram quando o dia já tava por amanhecer e repatriaram o pobre do touro prá República Ildefonso Simões Lopes.

Mas de mais e melhor lembrança da boate do Direito me fica a piscininha. Sim, nos primeiros tempos do Sanata a pista de dança era um pequeno círculo baixo de não mais que 3 metros de diâmetro. Quando chovia, o tal pequeno círculo baixo de não mais que 3 metros de diâmetro enchia d´agua e virava a tal piscininha. E era maravilhoso ver que ninguém arredava o pé e dançava todo mundo dentro d´agua, molhando calças e pernas até os joelhos. Especialmente quando tocava um forró do Sivuca. Só que dançou tem idéia do que era "Forró em Santa Luzia" com as canelas dentro d´agua: "Ah, pára, pára, rapaiz! Isso é bréégaaa, eu quero é forrróóóó´, viu, menino?" E aí a sanfona do Sivuca entrava rasgando. Como se diz em Santa Vitória: entrava a roooompeeeer...

Pena que numa das tantas reformas do prédio da Faculdade os pedreiros descobriram que tudo era causado por uma calha entupida. Os idiotas da objetividade (de novo o anjo pornográfico) consertaram a desgraça e assim terminaram com a piscininha. Prá mim as lembranças da boate do Direito se dividem entre antes e depois desse infame conserto. Entre A.P. e D.P. Antes da Piscininha e Depois da Piscininha.

E que depois, de conserto em conserto, e de reforma em reforma, o prédio onde funcionava o Sanata tenha sido literalmente derrubado prá virar um monte de novas salas de aulas da Faculdade (sobrou só a fachada externa, Félix da Cunha, 363), é só um mero detalhe prá quem guardou todo esse monte de lembranças no lugar certo. Na cabeça.

30 comentários:

  1. Itiberê! Junto com o quadro do Tche, nas repúblicas femininas, era de praxe também o "Soy Mujer" e "Hermanos"!
    Também lembro que por várias vezes encerravas as festas com Bolero de Ravel. Puxa, bom demais!

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  4. ERRO: Cometi um equívoco e excluí (sem querer) um comentário do Ronaldo Cupertino que elogiava o texto do Itiberê (Boate do Direito). Oi Ronaldo, se puderes, publica novamente... Desculpem o administrador do blog!!!

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  5. pós 87 vivi literalmente o "direito" foi um tempo onde vivenciei como ser gente sem se conrromper.agradeço muito os amigos pelotenses(nem todos de satolep)me tornei uma pessoa muito melhor.

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  6. tivemos outros bares:ideologia,trilhos urbanos,bar da rosinha(laranjal).aquele onde Raul Seixas passou quase uma semana tomando e cheirando todas.O Delamar(apesar do mau humor)era democrático e petista.Uma vez ele abriun ao bar para uma apresentação do "Baiano" figura ímpar na cidade

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  7. curti este tempo anos 80 foram os melhores os barzinhos as boates, o mamão com açucar no domingo a tarde foi 10, as musicas pink flod, led zeppelin e outros bandas nacionais, quando os jovens tiver seus 40 anos vão contar o que de musica reboleixon lady gaga não vão ter identidade musical.

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  8. porr
    a muito bom o texto morei em Pelotas de 84 a 92 e vivenciei tudo isso
    saudades....

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  9. Muito o texto. Nos remete a um tempo de felicidade total. Morei em Pelotas de 84 a 89, cursando Agronomia. Bem, a turma da Agronomia era sócia de carteirinha do Sanata. Muito bom ver este resgate histórico e me arrisco a incentivar para um registro em livro destas e outras passagens. Poderia ser um livro coletivo onde cada um contasse suas experiências. José Álvaro Pacheco - TrÊs de Maio/RS

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  10. Pô, tu tem uma memória invejável, lembras dos mínimos detalhes, foi uma verdadeira viagem no túnel do tempo ter lido esse teu texto. D++++!! Vivi grande parte da minha vida em Pelotas, hoje não mais. O interessante é que me fez lembrar muito da noite dessa cidade...adorei!!!

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  11. Que memória! Adorei teu texto, vivi tudo isto! Deu saudade do Cláudio Penadez, quando formávamos um quarteto imbatível: Eu (Olavo), o Vitor, o Ben e o Cláudio.

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  12. Haja coração para ler este relato perfeito e minucioso do inesquecível Sanatório Geral!Frequentei muito, com o Glauco.

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  13. Parabens pelo relato!! Fiz uma viagem no tempo e relembrei uma época muiiittttooo doida de Satolep! Lembrei das festas da Elô(que ainda rolam pelo que sei), do Bruxo da Sete de setembro e do Bruxo do treiler na volta da boca do lobo onde tomavamos aviãozinho, da docas e da marambaia etc e tal...
    Massa!!

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  14. Gente,que coisa incrível descobrir este site,fiquei emocionado com o texto do itiberê,sou o Helton,fui o cara do som por uns bons tempos e a parte semi profissional do som começou comigo,eu fazia as festas da libelu e também depois comecei a fazer outras,no meu tempo eu levava minha própria aparelhagem dois toca discos,caixas,ampli e os meus vinis,quem levou o marquinhos pro direito fui eu,ele morava comigo,eu já tava cansado ,de dormir as dez da manhã todo fim de semana e comecei a passar umas festas pra ele,ele fazia mt parecido comigo inclusive levava discos meus,só que ele tinha coisas mais novas ,eu fazia mesmo a coisa engajada,só o que era politicamente correto,essencialmente mpb cabeça.mtas saudades deste tempo,moro no interior do rio há mts anos mas jamais esqueço do sanata,na minha época ainda era boate do direito.abraço a todos

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  15. Você me fez reviver anos de ouro, que eu jamais vou esquecer. Estive no Direito nessa época, vivi tudo isto que você postou, mas desisti do curso por causa dos professores e do currículo: era tudo muito arcaico, cheirava a mofo, decadente como a sociedade pelotense. Voltei anos depois e concluí o curso - não advogo, mas cumpri meu destino!

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  16. Adorei, uma viagem na minha história, saudade de um tempo muito bom...

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  17. Viagem no tempo, tempo muito feliz. Chamei minha filha pra ler pq quando eu contava parecia que não tinha existido....Maravilha de texto. Vivi em Pelotas de 84/89 e o "Direito/Sanata" fez parte da minha história. Beijos Maite.

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  18. Eu curti muito a boate do Direito, se colocar tudo que vivi lá escreveria um livro..kkkkkk..muito bom o texto, voltei no tempo, lembrei dos bares tipo Alta mente entre outros. Valeu galera...Muito bom

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  19. nostalgia da boa. que tempo distante... hoje tudo eh tão sem conteúdo. não sei o que a juventude atual vaia ter de louco para lembrar... comecei a ir no direito no final dos anos 80, era o único lugar que os punk eram aceitos sem preconceito.

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  20. Que nostálgico "cara do som"! Infelizmente hoje não temos nem o trailer mais ali na praça, para matar aquela danada larica!

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  21. Direito, Odonto, e toda nostalgia de um tempo maravilhoso, Sanata, e outros mais, showwww

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  22. Muito frequente p Sanata e menos os outros. De 1982 a 1986. Bons tempos. Nando Ramoz

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  23. Tempo bom que não volta mais eu fazia um tur naquela época além do direito tinha a pastelaria o pretexto o altamente a odonto o gota d'água o verdes,tive o prazer de viver aquela época!

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    1. Morei ao lado da Pastelaria, em 1988 e 1989, sou da dívida de Santa Catarina e Paraná. Sou de Porto União-SC frequentei os 2 lugares, o Sanata é a Pastelaria do Cláudio, ou Claudiola como chamavam. Meu nome é Jomar. Abraço!!!

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  24. A historia do touro esta mal contada, o touro não foi pego prla dupla do jeep, foi seguro a unha por mim, o Rodrigo Sobreiro foi destemunha da história.

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  25. Putz Itiba, que relato tirou as palavras da minha boca

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  26. Muito boas lembranças. Fiz Agronomia de 1990 - 1996. Morava na Gomes Carneiro pertinho do direito e um dos moradores da casa colocava Som na Boate. O apelido era Batavo. O nome Gustavo Saucedo de Santana do Livramento. Saudades desse tempo. Gladimir de Viamão.

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  27. De 1987 a 1991 quando fazia enfermagem na ufepel ia religiosamente na boate do direito,Amaaaaava o local e o sonatas.grata pelas ótimas lembrancas

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