A MEMÓRIA E A DESMEMÓRIA

Por Bitisa Mascarenhas
O curioso na desmemória é que ela aleatoriamente apaga algumas coisas e mantém outras vivíssimas. de modo geral apago fatos, mas mantenho sentimentos. a minha memória desse dia é basicamente das sensações e emoções que vivi. não lembro quem estava na praça, além do Gastal; não lembro se era muita ou pouca gente; não lembro da cara do dia; não lembro quanto tempo durou; tenho apenas uma idéia turva do que eram as forças da repressão naquele momento, mas não lembro de fato se eram muitos e o quão armados estavam; não lembro quem foi o colega que me segurou pelo braço me dizendo pra não me meter naquilo. tudo que lembro foi o que senti e que contei. só bastante tempo depois compreendi o que aquele dia significou pra mim.
penso que a tua memória também te prega peças por achares que eu estava na organização do ato. por outro lado, sei que exatamente a partir dali me juntei a vocês, que já marcavam posição na faculdade de Direito: tu, Gastal, Mickey, Duca, acho que talvez Valdecir e Milton. então, realmente eu estive junto desde um momento bastante temprano. além disso, penso que esta história que contei agora só senti possível de contar agora. naquele tempo era melhor obscurecer o meu ingênuo "namoro" com a direita: éramos todos bastante sectários, embora este fosse um atributo apenas aplicável aos demais, nunca a nós mesmos. acho que me agradaria mesmo que todos pensassem que eu era "revolucionária" de berço... :)

acho que temos belas histórias pra contar do nosso tempo no Direito. mas eu não lembro dos fatos, então aponto algumas, talvez tu queiras contá-las: o dia em que o Direito recebeu com honras, penso que para uma aula inaugural, não lembro se o próprio Marcelo Caetano ou outro figurão da deposta ditadura portuguesa, e nós o recebemos enfileirados nas escadarias com cravos vermelhos; a ocasião em que perdemos (Novação) as eleições do DA pro Calucho, mas nossa votação foi tão representativa que demandamos - e levamos - uma sala no espaço do DA, que foi o germe organizativo de muitas atividades da nossa fatia da esquerda, e um dos primeiros espaços, senão o primeiro, de reuniões do PT; nossa formatura na sala da direção - da Alzira, Gastal e eu (faltando tu, porque o Bellora te deixou em Processo Civil por uma merreca de pontos) - verdadeiro ato político para o qual convidamos através de uma panfletagem nas escadarias, ao final do qual li o discurso que redigimos coletivamente e que não deixava pedra sobre pedra...; nosso primeiro escritório de advocacia popular e sindical, na XV - tu, eu, Milton, Valdecir - , que evidentemente não deu certo, mas que mais uma vez foi um espaço importante de encontros e atividades - e quando o projeto de advocacia não deu certo, Milton e Valdecir, mais o Baratinha, garantiram o lugar criando o Misturança.

2 comentários:

  1. Por favor o fato de ser apenas um incauto que somente agora soube da existência deste blog.
    Perdoem também a desmemória pois não lembrei de quem poderia ser o texto deste "post", mas aguardarei a informação à respeito da autora "invisível" sem antes registrar meu prazer em ler tais paragrafos...Bjs

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  2. O texto A MEMÓRIA E A DESMEMÓRIA é da Bitisa Mascarenhas.

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