O MUTIRÃO DA AGRONOMIA

Por Luiz Fernando Fleck


Meus caros(as):

O balde caiu do lado

tartaruga se antenou

segue, pois, um recado

deste que anunciou...


Vou tentar recuperar um pouco da história do Mutirão, este importante "movimento" que sacudiu um pouco a poeira da Faculdade de Agronomia de Pelotas, contribuiu muito para um debate crítico e o melhoramento humano dos alunos ( e de alguns professores) da agronomia; fez "sua parte" no conjunto do ME de Pelotas e ; o "bem bom", formou uma "quase multidão" de profissionais/militantes que vivem e trabalham em muitos, muitos lugares, sempre na perspectiva de uma agricutura com a natureza e com a natureza das pessoas. Trabalham hoje em ONGs, no Governo Federal ( muitos) , em outros governos estaduais e municipais, nas EMATERES, alguns mais atrevidos como consultores, outros professores, padeiros, escritores, políticos e aí vai. ( Nota : No Governo Olívio Dutra/RS - 1999-2002, creio que tinham cerca de 50/80 agrônomos do Mutirão guarnecendo as fronteiras da Gália ( lembram da charge do Olivio como o Asterix / para eu a mais emblemática do período/ a sua essência. A nota 2: também bom é o fato de um professor/pesquisador da UFRGS pensar que é importante ver este "movimento" e se propor a estudá-lo; entender porque muitos "batateiros" não se contentaram com a simplificação do que era dito que é a agriculura e procuraram a vida que exisite junto a ela, e juntaram/ se preocuparam com este demônio de equidade, da igualdade, da tal de justiça social.

Pelo pouco que sei nos idos de pré-64, na FAEM-UFPEL, e pós logo adiante houveram pessas que já "comungavam" estas idéias e ideais e estão, os que vivem, firmes na luta. Falo do Coelho agrônomo ( tem uma floricultura/eterno militante), do Claro Freitas ( reforma agrária, hoje consultor ), do Péricles ( cara genial), do Laércio Nunes ( meu amigo, militante sempre...sempre partidão) e outros que não sei. Pós, tivemos na FAEM a força e persistência de muitos camaradas valiosos como o Flávio Coswig, o Volnei Krause e outros que sustentaram que já naquele tempo que " outro mundo era necessário". E aí chegamos nós : filhos de colonos, gente da cidade (minoria) , garotos e garotas (poucas), perguntas, esperança e ansiedade. Pelo que lembro, o Mutirão começou sua trajetória atuando, a seu modo, na gestão de direita do DA da agronomia de então. Fizemos na semana acadêmica de 77/78 um "curso de política agrícola" com expressão de outros pensamentos além dos da FAEM , como os de André Foster ( sindicalismo ), de um presidente de Sindicato dos Trabalhadores Rurais ( grande Alvino Limberger, meio santo, meio louco), e na parte cultural com os TAPES, grandes músicos que lembram ( Claudio Garcia) até hoje suas idas à Pelotas). Também neste tempo fomos ( delegação de 19 ) ao Congresso de Estudantes de Agronomia em Piracicaba, que afirmou idéias e motivos para ir mais adiante. ( este congresso rendeu um casamento que dura até hoje, e um grupo "central" coeso e forte" que foi a base da chapa do Mutirão I ). O mutirão era como diz o prório nome um agrupamento, um conjunto de muitas posições, que iam do centro á esquerda. Com uma idéia matriz ( novos tempos, com pluralidade ), com muita gente, ganhamos as eleições para o DA em 77/78 ( final do ano). A chapa era composta de cerca de 40 pessoas, indo do trabalhismo nacionalista ao até recem assumido ( por alguns poucos) internacionalismo proletário/camponês. Fizemos uma gestão múltipla, com política, com ciência ( revista AGROS), com arte, com Teodolito e com muita garra. ( É muito bom ver as nominatas do Conselho editorial do Teodolito / quanta gente maravilhosa/ os representantes alunos nos conselhos do curso de agronomia, etc). Nos juntamos ao movimento estudantil de Pelotas, pelo que me lembro, já nas eleições de 77/78 quando concorreram, com o mesmo ideário, bandos de gente nos DAs da Medicina ( Coelhinho e &), Arquitetura ( Vagareza e &),e Educação Artística ( Nêne e &) e todos ganhamos. Seguiram-se as longas discussões sobre as diretas para o DCE, as mesmas, a nossa vitória apertada, a posse na praça, a GERARTE; na verdade o re-início de algo contundente que veio para ficar para muitos tempos. Prá não me alongar , lembro Borges escritor, que citou um tal de Colerigde " Se um homem atravessou o paraíso em um sonho, e lhe deram uma flor como prova de que estivera ali; e ao despertar encontrar esta flor em sua mão; então o que é ? Como ele mesmo diz, se trata de um ato de coroação de uma infinita série de causas e manancial de uma infinita série de efeitos; assim como na invenção de Colerigde está a geral e antiga invenção das gerações de amantes que elegeram como prenda, uma flor.

Assim eu lembro... tem muita coisa prá lembrar...prá celebrar...

Por esquecimento no depoimento último : Luiz Fernando Fleck , agronomia 75-79 ( julho). na verdade fiquei pouco tempo nos bons anos do ME Pelotas, quase sem "sanata", sem uma monte de coisas. Saí em julho de 79, ( sairia em dezembro de 78, fiquei numa "matéria/hidraulica" prá continuar matriculado ( ahhh.. estes estudantes "profissionais do comunismo...) e ficar junto ao DCE. Para a pergunta do Vagareza, não fui de nenhuma tendência de forma mais militante; estava próximo ( distribuí o EM Tempo por uma ano ) das idéias de expressão e representação de tendências, mesmo minoritárias, da tal de crítica ao stalinismo, centralização, etc. Mas gostava, e gosto até hoje, destas coisas ( a tal da cultura) que o povo fala : "Neste mundo tem gente prá tudo, e ainda sobra um prá tocar gaita". saudações. Fleck

Por
Ernani Garcia Leal

Não recordo com exatidão a data, foi em 77/78 (acho que em 78), mas como integrantes da gestão do Mutirão da Agronomia, fomos um grupo a um CONEA (Congresso Nacional de Estudantes de Agronomia). Fui com o Fleck de ônibus até POA, visitamos a Palmarinca, especialmente aquela salinha bem nos fundos com os livros e revistas proibidos .Além de nós, lembro que foram a Rita, Jacira, Elemar, Leo Venzon e deve ter ido mais alguém que não recordo. Foi um sufoco, a viagem de SP até Piracicaba foi feita com extrema expectativa, não sabíamos e até esperávamos que a polícia estivesse na rodoviária esperando e encanando todo mundo.

Mas isso não aconteceu, e participamos do congresso de maneira não muito tranqüila, sempre esperando que a repressão aparecesse a qualquer momento.

Lembro que ficamos admirados com o campus da ESALQ, todo limpo e urbanizado, todo asfaltado, os quartos da Casa do Estudante de lá eram qualquer coisa, os quartos eram para dois moradores somente, e a cada dois quartos havia um banheiro conjugado, bem igual à nossa casa da UFPEL.

Quanto à paranóia com a repressão, um episódio no congresso não me sai da memória; pois em uma noite em que assistíamos a uma palestra em um auditório, ouvimos um barulho na entrada que nos pareceu de uma invasão da PM paulista, com ruídos de cadeiras, palavras em tomelevado, gritos de mulheres, homens, uma confusão. Todos se viraram para trás com os olhos arregalados, prontos para ver um bando de gorilões baixando os cassetetes em todo mundo. Qual não foi o alívio, num misto de decepção, ao se verificar que se tratava de dois ¨congressistas¨, mais parecendo dois baguais em luta corporal, engalfinhados em combate por causa de um rabo de saia, com certeza daqueles capaz de fazer dois militantes do movimento estudantil esquecerem qualquer ideologia e agir guiados pelos seus instintos, na disputa da prenda inocente pivô de nossa quase comoção coletiva. Essas recordações, à medida que nos vêm, se tornam mais nítidas quando as relatamos, e são elas que nos fazem ansiar pelo (re)encontro de todos nós.

Se alguém, quiser enriquecer essa narrativa, será muito bom, talvez a Jacira, a Rita, o Elemar, que continuam aqui em Pelotas, como eu.

Abraços a todos.

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