O PLANETA OU A BARBÁRIE

Por Fefa Recuero

Já que todos sabiam aonde estavam a 30 anos.
E agora! Para aonde vamos?
Foi um grande evento este reencontro da militância estudantil dos anos 70/90. Rever tantos amigos e companheiros de lutas.
Não foi um encontro festivo de esquerda ou um ato de partidários, desprovido de conteúdo político.
Quase trinta anos depois, estar presente na praça do Direito, e ouvir enfim o Gastal terminar a frase que lhe foi cassada, e presa:
“Liberdade não se pede, se pratica.”, foi um ato político.
Foram muitas lembranças, emoções, abraços fraternos e olhos mareados, também.
Mas para aonde vamos, agora com Liberdade?

Neste reencontro éramos 100, 150 saudosos de nossa militância estudantil pregressa, saudosos de nós mesmos, jovens e combatentes.
Também não éramos muitos há 30 anos. Cabíamos todos num porão como o do D.A. do Direito, vulgo Sanata, depois da meia noite de sexta ou sábado. Ali no grande palco da discussão política também celebrávamos a alegria de viver, de militar, de sonhar com o futuro.
Tínhamos qualidades, e acho que ainda temos.
Éramos combativos, sonhadores, revolucionários, libertários.
Tínhamos pedras, sonhos e poemas em todas as noites.
Mijamos muitas vezes na Ditadura.
Éramos jovens.
Se no Movimento Estudantil não tínhamos fileiras extensas, tínhamos vontade de sobra, sonhos imensos, acreditávamos que estávamos fazendo história. A nossa história.
E foi histórico e foi político sim, o nosso reencontro festivo.

Sobre um contraditório partido bazalquiano, o PT, que surgiu naquele mesmo momento histórico e que esteve politicamente representado, como aliás, até por aqueles o combatiam.
Lembro que em 79, éramos poucos, muito poucos. Cabíamos no máximo em dois ônibus. Foi preciso um grande esforço, para conseguirmos 100 pré-filiados para poder enfim fundar o pré-núcleo do PT em Pelotas.
Encontramos muitos destes 100 nestes dias recentes.
30 anos depois, eu mudei, você mudou, nós mudamos e o PT mudou.
Ainda bem que as coisas mudam, principalmente quando mudam para melhor.
E o PT mudou a cara deste país. Ou você tem dúvida?
É claro, que eu, como o Barata (grande cara, professor da vida), ficamos muito decepcionados quando ainda muito cedo o Partido que ajudamos a fundar, quebrou nossos valores mais caros, como a democracia interna, a ética na prática política, enfim, muita gente se desencantou.
A política é muito complexa, não podemos ser ingênuos. Por isto ainda estamos a apreender a fazê-la.
Quem não tem suas contradições?
Um Partido que foi oposição de verdade, que para ganhar eleições mudou, que apreendeu a ser governo, mas que não chegou ao Poder. Este ainda está distante.
Precisamos muito mais que Imaginação ao Poder, companheiros.
Há que ter sensibilidade, inteligência e muitas outras coisas, afinal, estamos todos na casa dos 50 anos, mas ainda estamos apreendendo.
Não existe um depositário da verdade, um guardião da memória, um herói imaginário das lutas de todos os dias. Não quero parecer defensor dos Petistas. Nem agredir a ninguém.
Encontrar os velhos e novos militantes deste Partido, do qual fundamos, mas não sou mais filiado, deve ser motivo de júbilo coletivo e não de manifestação ou motivação de frustração pessoal.
Votei há 27 anos no nosso candidato a Prefeito, o grande companheiro Volcan, com a mesma convicção que este era o melhor candidato, como votei na última eleição com a mesma certeza que o Marroni, nosso Deputado, nosso primeiro Prefeito, também era o nosso melhor candidato.
E que bom vê-los celebrando com a gente.
Ver o Milton, a Cecília, a Duca, o Valdecir, o Ivan, o Florismar, a Jacira, e outros companheiros que botaram a cara na rua, como nossos candidatos, como representantes de nossas lutas, de nossos sonhos. Sonhos que ainda não se realizaram.
Afinal, acho o que todos nós queremos (com muita negociação) não é muito diferente. Ou não deveria ser.
Nem todos companheiros tiveram ou têm a mesma trajetória, apesar de queremos um caminho melhor para todos nós e a humanidade.
Somos humanos e não somos tão superiores quanto pensamos, e nada o que fazemos pode parecer estranho.
Não tínhamos todos, as mesmas posições e mesmo assim lutávamos e lutamos por muitas coisas em comum.
Não são pertencentes deste reencontro os militantes – do mais tarefista ao candidato – de todas estas lutas?
Os companheiros de todas as épocas? De todas as tendências?
Como vamos mudar as coisas se achamos que elas não mudam?
Se não mudamos...
Ainda somos muitos hipócritas.
Ainda somos sectários e contraditórios na nossa visão sobre política.
Precisamos aprender a superar as nossas diferenças. E tolerá-las.

Afinal quem somos, o que fazemos, para aonde vamos?
A luta continua, a vida continua. Até quando?
Hoje temos uma grande luta que une a todos, sem distinção.
Tudo passa pela preservação do meio ambiente.
A explosão demográfica, a fome, o esgotamento das fontes de energias não-renováveis, a água, a poluição notória da Terra, o desequilíbrio do meio ambiente, a poluição psíquica, e o aquecimento global, levam o nosso Planeta à extinção rapidamente.
100, cem anos no máximo, para o Apocalipse ambiental.
É a luta da sobrevivência do planeta, é a luta pelo meio ambiente para que a humanidade não desapareça.
Uma bandeira que ainda não sabemos a cor, como confeccioná-la, erguê-la na luta e vê-la ao vento da Liberdade que conquistamos.
Ainda temos muito que apreender. Muito que fazer.
Eu ainda acredito.
Um outro mundo é possível.
Salvem o planeta Terra. Ou acabaremos junto com ele.
O planeta ou a barbárie, companheiros de lutas e de sonhos.
Mas vamos precisar de todo mundo.

Um comentário:

  1. Fefa.
    Gostei muito deste texto, tb senti isto. Alguns achando que entramos num túnel do tempo, que nestes 30 anos que se ´passaram não aconteceu nada ...
    Com certeza iniciamos tudo há 30 anos, mas tivemos muita ação de lá pra cá. Possivelmente nem todos trilharam os mesmos caminhos, isto fez com que cada um, a parir de suas experiências, tivesse seu crescimento. Ainda bem que as coisas são assim, porque desta forma estamos construindo algo melhor, com todas as dificuldades e contradições dessas experiências.
    Não tenho a mesma facilidade tua (fefa) de expressar no texto, mas queria deixar algumas impressões: muitos dos que se dizem decepconados o fazem mais para justificar seu comodismo. Mas, como disseste, precisamos de todos independente do quanto cada um esta disposto a se doar.
    boa luta nesta vida.

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