A PRIMEIRA GREVE

Por Ricardo Almeida
Estou enviando uma relação de pessoas que atuaram no D.A. da Arquitetura e Urbanismo da UFPel. Daí, só o Mauricio Polidori fazia parte da lista que circulou. Repeti o nome dele pois ele foi uma das principais líderanças na primeira greve da UFPel. Nós paralizamos as atividades por alguns dias e fizemos uma passeata no campus (do Departamento até a Reitoria) para entregar uma pauta de reivindicações ao reitor. Sendo que a principal reivindicação (mobilizadora) era o fim do exame na disciplina de Projeto arquitetônico. Essa disciplina era a "coluna vertebral" do curso e se desdobrava durante todos os semestres, a partir do 3º ou 4ºsemestre (não lembro bem), até o final do curso. Achávamos que um(a) estudante não teria condições de elaborar um "projeto arquitetônico" nas 3 ou 4 horas de prova, e que o(a) mesmo(a) deveria ser avaliado(a) durante todo o semestre pelo seu desempenho e produção. Lembro que foi feito uma apresentação super bem elaborada deste novo conceito de avaliação (o Maurício de tê-lo em mente pois foi um dos idealizadores). Também é importante frisar que o curso de Arquitetura e Urbanismo (na época ainda era curso e não Faculdade) nunca deixou de participar de uma greve geral. Acho que uma das nossas principais bandeiras de luta e que nos mantinha unidos era a revisão do currículo, que estava muito voltado para a área de Educação Artística, já que o curso havia se originado na antiga Escola de Belas Artes, da UFPel. Durante mais ou menos 3 anos fizemos seminários com professores da Pedagogia UFPel, de outras Faculdades de Arquitetura do país e da própria UFpel, para refletirmos e elaborarmos um projeto de currículo e programas que depois acabou sendo reconhecido pelo MEC, como um "plano piloto" para outras escolas do país.

Por Maurício Polidori
O Movimento Estudantil fez e faz parte da minha vida e está na minha estrutura pessoal. Acho que muito do que já fiz e pensei de bom deriva dali. Muitas vezes fui empurrado e tantas outras empurrei. Havia vida e emoção, muita emoção.
Essa experiência de discussão do ensino de arquitetura que o Vagareza fala foi muito importante, particularmente pelo processo que nos fez experimentar; hoje sou professor ma mesma faculdade em que estudei ! Alguns colegas relatam que a Greve da FAUrb de Pelotas foi a primeira Greve Estudantil pós 64; será ?

Vou lembrar do Zanoni e da Milonga da Greve:
(estará acertada e completa ?)

Essa milonga da greve
foi composta em sinfonia
contra a vã filosofia
da dureza intermitente
Protestando contar gente
que oprime o estudante
e não afrouxa um instante
e vende mente doente
E num apuro danado
se reuniu o conselho
aconselhando um bom relho
prá'rquitetura de artista
Acusando comunista
o estudante guerreiro
que se ergueu piqueteiro
no movimento grevista
Num dia de contraponto
se une povo e cultura
prá deitar a ditadura
que sempre amassa o povão
Talvez num largo trovão
se erga forte a verdade
prá mudar a realidade
da triste situação


Por Paulo Brum
Eu não fui presidente do DA da Arquitetura. Sempre atuei mais na retaguarda, na articulação, pois tinha outros envolvimentos políticos, fora da universidade. Desde 1971, quando fui para Porto Alegre, passei a militar no PCB.
O Cupertino foi presidente depois do João Carlos Alcantara, que foi o 1º presidente. Eles eram da 1a. turma, de 1972. A minha turma foi a 2a., de 1973.
Lembro do Joni Coelho, de Tubarão, que também teve muita atuação. Ele está lá por Tubarão. O Noé Vega, que está em Pelotas, também atuou, embora discretamente, pois era uruguaio, poderia ter problemas.
Na época, 1973/1074, fui representante dos estudantes no Departamento de Matemática e, depois, no Conselho Universitário.
A representação no DA não nos importava tanto quanto o Conselho, até porque os Decretos 477 e 228, decorrentes do AI 5, proibiam a ação política na universidade. Era a forma de atuar politicamente com o respaldo legal. Não dava para arriscar. Era o espaço político para levar as reivindicações, para mobilizar em torno de temas que ninguém poderia dizer que eram políticos, mas nós os polítizavamos. Dessa forma iamos comendo pela beirada. Se tinha uma fresta na porta, a gente empurrava para abrir mais. As vezes tinhamos que recuar, mas não desistiamos. Carne de pescoço!
Ainda bem. Chegamos até aqui, vivos.

Por Maurício Polidori (foto e texto)
Não éramos um grupo avançado, pois estavam ali colegas de aula sem tradição ou consciência política. Olho agora a foto de 1978 e confirmo isso, pois acho que somente a Carmem Leal sabia da importância e entendia dos motivos para participar no ME. À Carmem, ao Vagareza, ao Coelhinho e a tantos outros devo terem-me mostrado o que fazer com aquela chama que temos ao entrar na universidade, mais ainda naquele momento tão importante ! Essa chapa não foi eleita para a gestão 1979, o que parece ter sido ótimo ! Então nesse ano voltamos à carga, com um grupo mais politizado e mais capaz, vindo a assumir em 1980. Eu fui presidente do DACAU (Diretório Acadêmico do curso de Arquitetura e Urbanismo) e a Carmem Leal foi vice. Estivemos à frente da Greve de 1980, do boicote dos ônibus pro Campus e tantas outras paradas; em 1981 tivemos nossa filha Maria Carolina, mas essas são outras histórias.

2 comentários:

  1. Fico muito emocionada ao elmbrar desta nossa primeira greve na UFPEL! Não participava do DACAU, mas participei ativamente de todas as manifestações da época! Lembro-me de quando a marcha chegou na reitoria, da quantidade de "porcos" fotografando toda nossa movimentação, lembro-me de não sentir medo! Isso é muito bom, não sentir medo, até um\a certa excitação nervosa, mas medo, NUNCA!! Toda mina vida futura, de certa forma, ficou marcada por aqueles anos juvenis, tão difíceis, tão instigantes e tão importants!! São outras as bandeiras, mas, com certeza, a luta continua, por uma sociedade mais igualitária, mais justa e fraterna!
    Maria Isabel Corrêa

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  2. Visitem os meus blogs: http://wwwpalavraseimagens.blogspot.com
    www.marquesiano.blogspot.com
    wwwencontropelocaminho.blogspot.com
    Conheci alguns da foto bem de perto. Beijos

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