MEMÓRIAS DA MEDICINA - UFPEL

Por Ricardo Nogueira (Coelho)

Vou contar algumas histórias da Medicina Leiga. Em 1975, entramos lá, cursávamos o primeiro ano, André Hypólito, Carvalhal, Elisabete Carpena, Adalgisa e Beto Zambrano(falecidos), Angélica Nunes,atual esposa do Pena,irmã da Angela Maas, ex-Maas,Nunes de novo,ex-diretora da Odonto e eu. Éramos um núcleo de pelotenses, ilhados por paranaenses, paulistas, gringos e alemães de todos os recantos do RS. Tinham muitos japoneses também, era uma fauna, sedenta de sexo, fama, rock and roll e algumas droguinhas básicas a mais, o álcool em primeiro e disparado lugar. Mas apesar de tudo, estudávamos e gostávamos de política também. No primeiro ano fui um mero espectador, no segundo ano vencemos a eleição para a ATM (associação de turma médica), mas para nós aquilo era um simples trampolim para conquistarmos um espaço político dentro da faculdade. A primeira coisa que fizemos na ATM, foi criar um jornal, O RONCO, se alguém ainda tiver algum exemplar,nos enviem. O Breno da arquitetura foi eleito o nosso chargista oficial. Os redatores eram, André, Pena e eu. O Carvalhal fazia as cópias no mimeógrafo e o Ayres Berger, era o segurança. O aparelho ficava na Cohabpel. O Abilio que morava lá conosco, era o censor paranóico. O André era o mais radical, eu fazia o centro e o Pena oscilava. O Ayres e o Abilio, faziam a opinião prévia dos nossos leitores/colegas. A primeira bandeira que levantamos foi a da Federalização da Medicina Leiga. Nos acusaram de sonhadores, mas nós acreditávamos no sonho e continuamos com a nossa luta, conquistamos o DANK, que estava nas mãos do Anselmo Rodrigues, que depois foi prefeito de Pelotas, infelizmente por duas vezes também. No Dank,ele fez a mesma coisa que na prefeitura. O Anselmo era um apaniguado da direção, o IPESSE(instituto de ensino superior do sul do estado) era uma instituição liderada pelo Dr.Naum Keiserman, com apoio da maçonaria. Porque havia uma competição muito salutar naquela época entre a igreja católica e a maçonaria em Pelotas, cada uma tinha um educandário ou mais, uma faculdade de Medicina, etc. Mas isso era muito bom para a cidade. Porém, para nós estudantes pobres, ficava difícil pagar a Leiga, que era particular. Teve um mês lá que o André, eu e outros não conseguimos pagar a faculdade e o Dr.Naum nos proibiu de fazer a prova de Anatomia. Reunimos a turma e colocamos a questão. Fomos ao Dr.Naum e ele nos disse:¨Ninguém mandou vocês se meterem onde não tem condições¨. Saímos dali e voltamos para turma, naquela noite mesmo editamos um exemplar d`O Ronco, e roncou. O Breno fez as charges, ótimas,diga-se de passagem. Daí em diante a Leiga nunca mais foi a mesma, começou o processo irreversível da Federalização. Logo fomos à Brasília falar com o professor Edgar Machado, um paranaense que era o diretor do DAU (departamento de assuntos universitários) do MEC.Aí articulamos com os nossos colegas que eram do Paraná e aconteceu. Aqui fomos eleitos para o DANK, e o DANK, que quer dizer Diretorio Acadêmico Naum Keiserman (ironia do destino) se transformou numa trincheira das liberdades democráticas dentro da Ufpel. Ali nos reuniamos, editávamos jornais, distribuíamos a Tribuna da Luta Operária e reuníamos os simpatizantes do PC do B. Chegamos a ter cinquenta militantes lá, mas o espaço era democrático, também se reunia o pessoal da igreja, que sempre foram nossos aliados, da Convergência Socialista, PDT, etc. Tinha espaço para todos, a música, o teatro... Mas o que aprendemos é que quando acreditamos vencemos. Para exemplificar isso, lembro da primeira greve da Medicina-Ufpel: a UNE ordenou uma greve nacional, nós chamamos uma assembléia e foram poucos colegas. O Iltamar Dias Farah disse :¨não temos condições de parar a faculdade¨. Fiquei olhando para ele e disse-lhe:¨Nós vamos criar às condições¨. No outro dia nos
postamos nos portões da faculdade (do lado da Coca-cola e do quartel do nono regimento de infantaria) e seguramos a ¨galera”. Diga-se a bem da verdade que antes nós acorrentamos os portões, mas ninguém entrou. Só entraram para ir à assembléia. Aí lotamos e seguramos a greve o máximo possível... Quase um mês! Quem acredita no que pensa, consegue!!!



Fotos enviadas por Ricardo Nogueira:



Por Ricardo Nogueira

Esse aparelho da Cohabpel tem história: uma vez a BM bateu lá...

- Pronto caiu o aparelho! A vizinha disse que a sua filha menor está aí com um colega de vocês...- Ahhhh?.Bom, mas ele não sabia que ela era menor, porque ela é bem grande de tamanho.

Então mudamos a gráfica para o DANK, diretório da Leiga. Aí a repressão baixou mesmo! Chegou a Federal com busca e apreensão dos panfletos que nós fizemos convocando uma manifestação pela anistia... Vira e revira, cadê os panfletos,ninguém sabe, nem viu...Nos expulsaram de dentro do DANK e procuraram por tudo, teto,porão e nós na rua encostados no Galaxy do Dr.Sidney Castagno.

Aí, desce da reunião do conselho acadêmico o Lúcio Castagno...

- O que vocês fizeram...nada...pois é, o pai esta defendendo vocês lá, porque querem aplicar o art.477 em ti, no Pena e no André, por causa desses panfletos... Entrguem isso! Aonde estão? Pois é, se nós entregarmos, estamos todos ferrados, porque eles estão na mala desse carro aqui...- Vocês são loucos, e agora?

Vamos esperar a Federal ir embora e retiramos os panfletos. No outro dia de manhã, o Vânius Hoewell, vice do DANK (eu era o presidente) chega na Dermato, lá no Centro de Saúde antigo, atual SMS...

-Vocês não vão distribuir esses panfletos em nome do DANK... Não? Já foram hoje a primeira hora nos ônibus para o campus... A manifestação foi um grande ato. Resultado: O Gal.Vignóles me chama na AESI (Assessoria e informações) na reitoria... Pego meu Chevette prata, que ganhei de presente do meu sogro e quando passo na Floriano esquina Osório, vejo o Adalberto Petrolini de Carvalho, paro e ofereço carona, mas digo para ele: Vamos passar na reitoria primeiro, lá no campus? Ok, chegamos lá e o Gal. imediatamente nos interrogou...

- O quer dizer essa frase aqui por liberdades democráticas...

- É o que esta escrito...mas como...pa,pa,pá...vou encaminhá-los para o reitor...

E lá fomos ao Ibsen Stephan.

- Os senhores não sabem que é proibido fazer política na universidade? Que tem o art.477 que proibe?

- Sr. Reitor, nos achamos que é um direito...

- Gal,.o que vamos fazer com esses moços?

Aí, o Adalba se vira para mim e diz:

- Isso vai dar bode!!!

- E eu digo: já deu!

12 comentários:

  1. Meu irmão Coelho, vendo estas fotos sinto que a vida sem os ideais não tem sentido.
    Recordar é viver. Fraterno abraço a todos.Nos vemos em Pelotas!
    André Hypolito!

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  2. Amigo Coelho Eu tô na foto dabaixo lado direito rosto virado, quanta saudades, lembra do congresso de reconstrução da UNE em Salvador, eu guardo o crachá de identificação.Viva Honestino Guimarães!Abraços Picolé.

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  3. Nossa, eu mal acredito no que leio!
    Sou estudante da Leiga, atual gestão do Dank, e fico muito feliz em ler sobre a história do nosso diretório, e saber q ele foi de tantas lutas.
    Vc tem mais fotos do DANK, mais histórias incríveis como esta? Teria como envia-las? Queremos fazer um registro histórico do DA para qm sabe motivar mais movimentos na nossa querida Leiga!

    Obrigada, Letícia (leticiapascelli@yahoo.com.br)

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  4. Oi, Ricardo! Olá, Picolé! André... como está?
    Que bacana, pessoal, encontrar vocês!
    Estava procurando imagens da Faculdade no Google e encontrei a foto! Quanta saudade, gente... e quanto orgulho de ter participado um pouco de tudo isso. Sou ainda toda essa história, o que coube em minha história. E não foi pouca coisa. Aos 50 anos, olho minha trajetória e sinto-me plenamente confortável.
    Um grande abraço.
    Rosane (rosabachi@hotmail.com)

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  5. E aí pessoal!!! Aqui quem fala é Vital Canez... Com muito orgulho me formei na UFPEL em medicina na primeira formatura intercursos na gestão da Reitoria do saudoso Dr. Amilcar Gigante. Sou médico psiquiatra e trabalho na Clínica São José em POA. Saudades de Pelotas e do SANATA!!! Que loucura!!! Abçs a todos!!!

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  6. gente procuro fotos do dr antonio antunes planella alguem conheceu

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  7. Oi, aqui é vital canez. Me formei na Medicina UFPEL em 91. Meu email é vitalcanez@hotmail.com. Abç a todos!!!

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  8. Ô coelho que triste omissão a tua quando não falas no cachoeira e nem lembras que eu falei que política não era aquilo que fazias tipo porra loca. tu e o andré deveriam estudar mais e falar menos, com mais certeza, quando falassem. a partir disso é que conseguimos comover o grupo que era todos de silenciosos que no fim votaram no coelho e a partir daí a virada se fez, inclusive com a federalização. o cachoeira ficava armado com uma 22 minha para impedir que os caras do ex-dank pegassem a grana do caixa das boates.isso também conta.
    abços
    adalberto rosses pediatra e militante do sus

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  9. Coelhinho, a leitura do teu texto me trouxe muitas recordações de um tempo de muito aprendizado não só curricular, mas também de vida na Leiga. Não sei se vais lembrar de mim, eu era conhecida como Ana Zardin, atualmente, Ana Maria Zardin Athaide Era do grupo: Coelho, Cabeça, Eduardo, Coruja, Ernesto, Índio, Zildo, Uruba, Melanie, Caermem, Laura....Fiz formação em Pediatria e Neonatologia. Estou casada há 21 anos e, ,nos nossos momentos de descanso costumamos degustar um bom vinho e conversar sobre família, filhos, finanças, música, amor e, é claro, política. Minha visão é de que a diferença básica do momento político atual para o que nós vivemos é o conceito de ditadura branda, muito flexível, o que nos impede de segurá-la nas mão, pois escorrega entre nossos dedos, diluindo nossos anseios e esperanças. Talvez seja uma visão tosca, sei lá! Um grande abraço. Ana Maria Athaide.

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  10. Em 1977 eu e o Robertinho Garcia éramos membros do Diretório e fomos, como delegados do DANK, à SESAC (Semana de Estudos em Saúde Comunitária), em Santo André. Na fila, aguardando a inscrição, a menina da mesa pergunta ao cara na minha frente: "Instituição que representa?" e ele: "DOPS, estou aqui para vigiar o encontro". Ela não perdeu a linha, disse "não interessa, tem que pagar igual!". E ele pagou a inscrição! No mesmo encontro o pessoal do DOPS colocou algo na comida, para esvaziar as assembleias e aumentar a filha do banheiro. Um gaiato, e músico, não lembro quem nem de onde, criou um refrãozinho sacana, no violão: "Shighelose e Salmonella / diarreia infecciosa!! / foi assim que eu aprendi, como é / a comida em Santo André!" Bons momentos aqueles, onde achávamos que os problemas do mundo tinham uma solução a ser implementada, por nós claro... hehehe

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  11. ABILIO OS DSANTOS CARDOSO19 de outubro de 2018 às 14:31

    PARA MINHA SURPRESA ENCONTRO A HISTORIA DA FEDERALIZAÇAO DA LEIGA NESSE ARTIGO DO COELHO,SAUDADE,MUITA SAUDADE DESSE PESSOAL.NA EPOCA ERA MUITO TIMIDO,BEM DIFERENTE HOJE.NUNCA MAIS VI NINGUEM MORANDO E TRABALHANDO EM POA.SERIA BOM MARCAR UM REECONTRO COM ESSE POVO,MUITA SAUDADE ATE' DA PSIQUIATRIA.

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  12. Alguém aqui conhece o Fernando do Paraná, formando em 83? fazia residência na beneficência portuguesa de Pelotas.

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