É SINAL QUE VALEU!!!

Vitor Ramil escreveu em Satolep: "Se um dia qualquer / Tudo pulsar num imenso vazio / Coisas saindo do nada / Indo pro nada / Se mais nada existir / Mesmo o que sempre chamamos real / E isso pra ti for tão claro / Que nem percebas / Se um dia qualquer / Ter lucidez for o mesmo que andar / E não notares que andas / O tempo inteiro / É sinal que valeu! / Pega carona no carro que vem / Se ele é azul, não importa / Fica na tua / Videntes loucos de cara / Descrentes loucos de cara / Pirados loucos de cara / Ah, vamos sumir! / Latinos, deuses, gênios, santos, podres / Ateus, imundos e limpos / Moleques loucos de cara / Ah, vamos sumir! / Gigantes, tolos, monges, monstros, sábios / Bardos, anjos rudes, cheios do saco / Fantasmas loucos de cara / Ah, vamos sumir! / Vem anda comigo pelo planeta / Vamos sumir! vem nada nos prende ombro no ombro vamos sumir!"

TRANSVERSAL DO TEMPO

Quanto tempo, pois é quanto tempo (...) Tanta coisa que eu tinha a dizer, mas eu sumi na poeira das ruas (...) Eu também tenho algo a dizer mas me foge a lembrança... (...) Acho que o amor é a ausência de engarrafamento. (mistura de Sinal Fechado - de Paulinho da Viola - com Transversal do Tempo - de João Bosco e Aldir Blanc).

NADA SERÁ COMO ANTES...

Eu já estou com o pé na estrada / Qualquer dia a gente se vê / Sei que nada será como antes, amanhã / Que notícias me dão dos amigos? / Que notícias me dão de você? / Alvoroço em meu coração / Amanhã ou depois de amanhã / Resistindo na boca da noite um gosto de sol / Num domingo qualquer, qualquer hora / Ventania em qualquer direção / Sei que nada será como antes amanhã... (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos)

OUTRA CANÇÃO ATRAVESSOU O TEMPO...

Outra canção atravessou o tempo e foi assumindo diferentes roupagens. Será que é possível escolher apenas uma que represente o sentimento que existia nas ruas, nas praças e nos pátios de Pelotas? Pois, escutem esta que foi composta pelo nosso "louco de cara" Vitor Ramil e façam os seus comentários...(Interpretação de André Gomes e Frank Solari no Rio de Janeiro em 2006)

VIVA LA NEGRA MERCEDES SOSA

No auge das ditaduras latino-americanas Mercedes Sosa cantava Athualpa, Zitarosa e Violeta Parra de uma maneira muito linda e acessível. Era uma índia da região de Tucuman (norte da Argentina) que aos poucos foi se tornando mais e mais universal. Primeiro cantou a resistência, e depois as coisas do cotidiano, através das canções de Silvio Rodrigues, Chico Buarque, Milton Nascimento, León Dieco, Fito Paez e El Loco Charly. Sempre nos mostrava uma vontade clara de dialogar com as novas gerações e de experimentar novos sentimentos. Hoje, no dia do seu falecimento, precisamos reconhecer que La Negra nos pasaba las orientaciones políticas y espirituales necesarias para sobrevivir y luchar en aquella época dificil. Uma vez, num show que que ela fez no Beira-Rio, as forças paramilitares desligaram as luzes do ginásio e ela simplesmente falou para o público: "eles só se sentem seguros quando as luzes estão apagadas, eles se escondem atrás da escuridão". Gracias, Mercedes! Qué nos ha dado tanto...

OS MELHORES COMERCIAIS DA TV

É muito gostoso rever alguns comerciais dos anos 70, 80 e 90, pois eles também servem para uma reflexão e comparação entre as diferentes épocas.

11 DE SETEMBRO (de Ken Loach)


Quem já viu, reveja! Quem não viu, veja e divulgue essa brilhante reflexão do diretor Ken Loach sobre dois 11 de setembro (o de Nova York e o do Chile, de 1970). O pequeno filme faz parte de um longametragem em que onze diretores participaram com suas diferentes visões sobre o ataque às torres gêmeas (Nova York).

ANTECEDENTES E CONTEXTO HISTÓRICO (3 EPISÓDIOS)



CORAÇÕES E MENTES
(GUERRA DO VIETNAM 1954/1975)

REVOLTA ESTUDANTIL
(MAIO DE 68 - FRANÇA)

PAZ E AMOR
(WOODSTOCK 1969)


GOLPE MILITAR NO URUGUAI - 1973


GOLPE MILITAR NO CHILE - 1973


GOLPE MILITAR NA ARGENTINA – 1976


DITADURA MILITAR NO BRASIL
(1964/1985)

O FIM DA GUERRA FRIA E A NOSSA HERANÇA



MOÇAMBIQUE - TRIUNFO DA FRELIMO (Samora Machel)

SOLIDARNOSC - POLÔNIA

ANTECEDENTES DO FIM DA URSS

NICARÁGUA – TRIUNFO DA REVOLUÇÃO SANDINISTA

DERRUBADA DO MURO DE BERLIM – History Channel

DERRUBADA DO MURO DE BERLIM - Jornal Nacional TV Globo

APARTHEID + NELSON MANDELA - AFRICA DO SUL

GREVE NO ABC PAULISTA - BRASIL

MÃES DA PRAÇA DE MAIO - ARGENTINA

REVOLUÇÃO CUBANA 1959
(CHE GUEVARA)

BBC: A HISTÓRIA DA REDE GLOBO

Aqui neste espaço estava publicado um vídeo do Jornal Nacional que abordava o Movimento das Diretas Já. A Rede Globo proibiu a publicação dos seus vídeos, sem autorização da mesma. Portanto, trocamos pela primeira parte de um documentário realizado pela BBC de Londres sobre a Rede Globo. As outras seis partes podem ser encontradas no YouTube.

UMA PESQUISA ACADÊMICA?

Por Renato De La Vecchia
Estou bastante admirado com a repercussão que está tendo esse debate (acho que liberamos uma "energia" muito forte). Ainda bem. Não estou em casa nesse momento, mas terça feira pretendo mandar a todos a relação que tenho de contatos com ex militantes (tanto os que tenho endereços quando os que não tenho) para que todos possam opinar e colocar outros nomes como já vem ocorrendo. Existe muitos nomes de outros períodos ou até mesmo que não tem nada a ver com esse debate (Cacau na Católica, Tramontin na Federal) mas que para meu trabalho eu vou precisar contatar. No entanto podemos acrescentar outros nomes daquela lista.
Existe uma possibilidade que eu acho que poderia ser algo bastante interessante. A partir da última Semana Acadêmica do DA do Direito da UCPEL, uma das palestrantes era uma prof. da PUC (não lembro o nome) que pertence aquela Comissão Nacional que está revisando os casos de anistia política e estabelecendo os valores que estão sendo indenizados aos perseguidos pela ditadura. Ela se comprometeu a tentar articular uma das reuniões da Comissão em Pelotas em março de 2009 (a comissão está se reunindo de forma itinerante em vários municípios e estados). Conversando com o Enrique Padrós (coordenador do curso de história da UFRGS e que fez seu trabalho de doutorado sobre a Operação Condor), ele me comentou que estava indo a Brasília, pois existia um projeto de mapeamento de locais/monumentos importantes ou simbólicos na luta contra a ditadura.
Talvez se articulássemos um reencontro com uma sessão da comissão e fizéssemos a reconstrução da atividade do Direito (de preferência com os mesmos personagens) acho que poderíamos fazer um movimento com um impacto importante e marcar a praça do Direito como espaço de resistência à ditadura, e não apenas com os símbolos do positivismo e do autoritarismo que lá estão (me desculpem os advogados).
Também insisto na idéia de cada um de nós elaborar um pequeno texto falando sobre um fato significativo do período para publicarmos. Existem muitos, principalmente engraçados, que dentro de alguns anos irão se perder no tempo. O Medina tinha me falado a algum tempo atrás de uma pessoa (não quis me dizer o nome) que foi fazer uma pichação contra a reitoria e escreveu "fora reitor comunista" e que tiveram um certo trabalho para explicar ao mesmo que ele é que era comunista e não o reitor. Também não sei se é verdade, apenas ouvi de outros, a passagem que o Coelhinho estava discursando e em determinado momento falou "nessas veias corre sangue operário", momento em que o Adão gritou da multidão "Fez transfusão, Coelho?" (ao menos foi como ouvi a versão). Enfim, a ídéia é organizarmos esses momentos.
Por fim, existem muitos ex militantes já falecidos (aproximadamente uns 30 segundo meus dados). Poderíamos organizar um momento em que homenageássemos todos ao mesmo tempo (mesmo que simbolizados por um ou dois). Nesse caso não poderíamos esquecer a Gilse, que faleceu em atividade do movimento (mesmo que de um período um pouco posterior - 84). Pegando carona para ir a um CEE da UEE, pois o DA não tinha dinheiro para pagar a passagem de ônibus.

A ORIGEM DO REENCONTRO

Por Paulo Brum
Sinto-me tomado por uma profunda alegria e emoção com o rumo e a proporção que tomou essa reunião.
O que podem fazer algumas garrafas de vinho, hein?
Pois é, já na 3a. garrafa, na minha casa em Brasília, Fleck e eu comentávamos sobre a vida, o tempo de nossa profunda e fraterna amizade,
e a queda de cabelo do Fleck. Então lembrei que tinha umas fotos da época, de um debate na Faculdade de Direito, quando o Fleck ainda tinha cabelo em quantidade.
Mas quando pusemos o olho na data das fotos, vimos que eram de 1978, portanto, 30 anos.
Trinta anos de Construção.
Abrimos a 4a. garrafa, minha companheira só olhando prá gente e dizendo: piraram!
Dessa piração surgiu a idéia de fazer esse encontro, que pertence a uma geração que, mesmo sacrificando suas horas de lazer, estudo, convivência familiar, namoro, enfrentou bravamente o regime autoritário de 1964 e somou-se à luta pela democracia no nosso País.
Entretanto, preciso retornar mais 4 anos, a 1974, relembrando a Marcha dos 400, do campus da UFPEL até o centro da cidade, às vésperas da eleição de 1974.
O Presidente do Banco do Brasil, Nestor Yost, era candidato ao Senado pelo RS, e foi convidado pelo então Reitor, Delfim Mendes da Silveira, para dar uma palestra na universidade.
Como os estudantes não quizeram assistir a palestra, preferindo ir para a cidade.Para forçar a assistência, achando que estava tratando com cordeiros, a Reitoria suspendeu a saída dos ônibus.
Então, alguns estudantes se revoltaram, em meio a massa de passivos cordeiros (sic) e resolveu invadir o auditório e denunciar o ato da reitoria.
Em seguida, saindo do auditório, organizou-se na hora uma mobilização que culminou numa marcha a pé, do Campus até o centro da cidade, onde encontramos os Deputados Lélio Souza e Getúlio Dias, que na mesma noite denunciaram a atitude da Reitoria pela televisão. Tem-se notícia que foi a primeira manifestação de estudantes em uma universidade desde a edição do AI 5 e dos famigerados Decretos 228 e 477. Isso não importa, mas foi um ato importante. Parecia que iamos deflagar a revolução. De arrepiar. Jorge, Flávio, Adão, Helder, eu, entre outros, à frente, gritando palavras de ordem, e se organizando durante a caminhada. Aí começou uma amizade fraterna que permanece até hoje.
Esse fato reveste-se, em suas devidas proporções, de grande importância histórica para o movimento estudantil e a luta pela democracia, pois naturalmente formou-se, em meio à marcha, um grupo que se ampliou e chegou a 1978 com a força que resultou na Construção.
Aí conheci o Flávio Coswig, um grande companheiro, um agricultor familiar e um lider a quem devemos homenagens. também se encontaram o Jorge Antonini, o Helder Machado, o Adão (lembram dele? gande companheiro, grande companheiro, já partiu, mas devemos incluí-lo nas homangens póstumas!)
Tem outros que não lembro agora. Da arquitetura estavam o Cupertino, o Leonardo Carúcio, o Guto...
Esse grupo organizou-se e partiu para a luta política na universidade, tornando-se orgânico. Alguns se vincularam ao MDB, participou do IEPES, com o apoio do André Foster, do Antonio Voltan, do Alceu Salomoni (todos da APML) e ampliou a luta para o trabalho de bairro, fábricas, sindicatos, áreas rurais, etc. Parecia coisa de doido para quem mal conseguia se organizar dentro da universidade. O nosso tempo era todo dedicado a luta política. Achavamos que iamos mudar o mundo. Não havia temor da repressão.
Lembro que fui membro do Conselho Universitário, representando os estudantes, e que o General Edson Vignoles me chamava quase todos os dias para ameaçar com expulsão, prisão, etc.
Tinham chegado uns livros doados pela Academia de Ciências da URSS à Faculdade de Arquitetura da UFPEL. O reconhecimento da faculdade dependia da existência de uma biblioteca, mas o general se negava a liberar os livros, pois vinham de um país comunista, eram perigosos, podiam conter técnicas de comer criancinhas. Eram livros de cálculo diferencial, de geometria descritiva, de desenho técnico, etc.
Também tinha só um aparelho de topografia para atender aos estudantes da agronomia, da engenharia agrícola e da arquitetura. O general dizia que a universidade não tinha dinheiro, que tinhamos que nos contentar com isso.
Então, resolvemos fazer da necessidade de aquisição de mais equipamentos de topografia um motivo de união e de luta, juntando até quem não tinha consciência política, mas queria aprender. Isso juntou muita gente.
Um dia fui chamado à PF, em Rio Grande, e levei um tapa na cara de um polícial. Mas não me amedrontei. Como dizemos aí, não está morto que peleia! O Coelho deve lembrar que a gente fazia reunião política no meio do campo de futebol da Medicina, à noite, ao lado do 9º Regimento de Infantaria, durantes as festas de sábado da Medicina.
Nessa ótica da ampliação da luta política, lançamos o Flávio Coswig como candidato a Vereador pelo MDB Jovem, conseguindo o apoio do Partidão. Eu coordenei em Pelotas a campanha do Eloar Guazelli, do Dulphe Pinheiro Machado, ambos do PCB e, principalmente, do saudoso e grande companheiro André Foster.
A propaganda foi feita num mimeógrafo a alcool, num pardieiro na rua XV, onde habitavam o Flávio, o Jorge e o Adão. O Arthur Pereira também estava junto. Era muita discussão, no frio do inverno, com um garrafão de vinho ao lado e muita discussão. pela madrugada adentro. Faziamos comícios relâmpago nas paradas de onibus, com um megafone, enquanto alguns faziam a panfletagem. Portas de fábricas na madrugada eram panfleteadas, com chamadas de ordem contra a ditadura militar e pela organização de sindicatos e organizações de bairro e de agricultores familares.
Chegamos a 1978, com o MDB vencendo a eleição para a Prefeitura de Pelotas, com a vitória do Irajá Rodrigues. O Edgar Klever, à época, e foi Secretário de Planejamento e deu guarida a ação da esquerda, que teve na Secretária um importante baluarte.
O Rogério Gutierrez, a Esther Bendjóia, a Rosa, o Danilo Rolim, o Fachini, o Voltan, o Alceu Salomoni e outros que ali estavam também tem que ser lembrados e incluídos.
Daltro, Cecília Hipólito, Nenê, Frankão, Frank, eu mesmo, entre outros, assumimos a AMP, pela qual fomos delegados à 1a. CONCLAT, já em 1981, na Praia Grande, em São Paulo. Tivemos uma greve histórica dos funcionários municipais. O Daltro saiu da assembléia com uma crise de coluna, consequencia da tortura sofrida na prisão, e eu tive que assumir a direção da mesa. Foi foda! Achavamos que não era hora da greve, mas ela saiu, e tivemos que assumir a frente da negociação. A Cecília Hipólito lembra bem desse epísódio.
Foi no bojo desse processo de lutas que essa grande companheira Cecilia Hipólito elegeu-se, alguns anos depois, Deputada Estadual pelo PT.
Como podem ver, num breve relato histórico, um movimento que surgiu espontâneamente gerou uma organização que logo somou-se aos outros movimentos sociais que começaram a pipocar pelo País e terminou com o movemento das Diretas Já e a Constituinte.
E, é importante fazermos essa retrospectiva, pois não se trata de saudosismo juvenil, mas de, além, é claro, de nos reencontrarmos, fazer uma reflexão sobre o que representou isso para nossas existências e o que representa para o País num momento de mudanças efetivas e avanços incontestáveis. Mas não podemos perder a perspectiva da necessidade de aprofundar a democracia, o que requer grande maturidade da esquerda. Se é certo que ampliamos, a divisão da esquerda igualmente nos impingiu derrotas profundas nas últimas eleições. Vide Porto Alegre, Pelotas, Caxias do Sul, Santa Maria, só para ficar no RS.
De uma ou outra forma, cada qual ao seu modo, na área pública ou privada, todos os que participaram desse maravilhoso período tiveram e tem contribuido para o aprofundamento da democracia e da justiça social no País.
A formação que essa geração teve, escola alguma jamais poderá oferecer, só a democracia e a liberdade poderão.
É esse o legado que temos e que podemos oferecer aos que nos sucederam, em momento histórico diferente, com desafios outros que não tinhamos então.
Voltando a 1978, quero lembrar que aqui em Brasília ainda tem o Duda, o Alemão Chucrut, o Nelson Avozani (parece que está em SC) o Jorge Antonini e a Ione, o Lúcio Vaz, a Regina Alvarez. Não sei por onde anda o Arthur Pereira, se está por aqui, pois faz tempo que não o encontro. O Gastalzinho está no Senado, não o vejo há tempos. Coelhinho, grande camarada, está na Saúde (?). O Klever também vive aqui. Tem mais gente por Goiás, Mato Grosso, Rio de Janeiro (Cupertino), Santa Catarina (Helder Machado, em Concórdia e outros, lá por Chapecó). O Cristophe Delanoy está em Franscisco Beltrão/PR.
Não podemos esquecer do pessoal da Livraria Palmarinca, o Rui e o Hermes, que abasteciam a nossa formação política e o debate ideológico.
Por influência deles abri a Germinal Livros, que depois vendi para a Cecília Hipólito. Lembro que tinha uma coleção das obras completas do Lenin, de 62 volumes, editada pelo Fundo de Cultura do México. Sensacional. Isso me causou muitas ameaças de bombas, telefonemas anônimos e acusações, por ser uma livraria comunista, o que me levou a expor um volume do Mein Kanpf, do Hitler, para tentar neutralizar as ameaças. Não funcionou. O Mein Kanpf era proibido no Brasil. É certo que não li tudo. Pudera, 62 volumes, em espanhol, mas nas horas vagas pude tirar muitos ensinamentos.
Um castelhanos sempre entrava na livraria quando eu não estava e fazia ameaças ao funcionário. Um dia eu estava chegando, e cruzei com o dito cujo. Descobri que vivia numa pensão na rua Anchieta. Diariamente eu ficava esperando que ele saísse e passei, então, a seguí-lo, mas de forma que me visse. Inverti o jogo. Terrorismo por terrorismo, eu também sabia fazer um pouco. Logo, logo ele sumiu da cidade.
Noutras vez entrou um gringo, às vesperas da chagada do Reagan ao Brasil, dizendo que tinha perdido os documentos, todo o dinheiro, e que viu uma livraria comunista e resolveu pedir ajuda. Postou-se diante de um poster do Reagan segurando a Margareth Tatcher nos braços, ao lado de um cogumelo nuclear, dizendo Gone with the Wind, publicado pelo Partido Socialista inglês, e disse que era do Partido Comunista. Ficamos num bate-boca e eu acabei mandando ele procurar a assistência social da Prefeitura.
A propósito, a esquina onde ficava a livraria, um prédio em estilo neoclássico, de cimento penteado, é hoje um estacionamento. A cidade também mudou, para melhor ou para pior? É uma questão. Quando a gente vem de fora, depois de muito tempo, nota as mudanças.
Bom, esses são outros lados desse formidável processo. Coisa de doido. Mais surgirão.
O Coelho sugeriu uma reunião no meu restaurante em Brasília, mas eu já o vendi há tempos. Estava na Câmara, como assessor do Dep Assis do Couto, do PT/PR e agora estou na Assessoria Especial do Ministro da Cultura. Já estava com o Gilberto Gil e continuo com o Juca Ferreira. A reunião pode ser na minha casa, ou em algum boteco da cidade.
1) Concordo com a realização do encontro em Março, como proposto.
2) Acho que se deveria organizar uma exposição de fotos, documentos, além de filmes ( Breno parece que tem isso).
3) Os debates devem ter a retrospectiva histórica, mas devemos avançar para a analise da conjuntura atual e perspectivas para o País.
4) Acho que todas as tendências estarão representadas. Pode-se pensar no lançamento de uma carta chamando pela união das esquerdas contra a possibilidade de os neoliberais paulistas retornarem ao poder.
Bem, essas considerações são para começar minha participação nesse grupo. Pretendo retornar com outras, específicas, sobre o processo de construção da CONSTRUÇÃO.
Certamente, a "República Livre do Laranjal" terá seu lugar histórico, hilariante e festivo! Fleck, André, Léo e eu temos muitas histórias para contar.

CARTAZ DA CHAPA CONSTRUÇÃO

Este é o cartaz da chapa Construção, que ganhou as eleições (prévias diretas para o DCE) e depois deu origem ao DCE Livre.

CHAPA DCE UFPEL "FAZ A HORA"

Em pé: Ricardo/Vagareza (Arq), Joubert (Med), Ellemar (Agr), Jacira (Agr), Lilian (Vet), Paulo Santos (Vet), xxx, xxx

Agachados: Leo Venzon (Agr), Rita (Agr) , Marga (C.Dom?), Rosane (Pedagogia), Noeli (Ed.Fis.), Itamar (Med), Boanerges
(Med), Ivanir (Vet), xxx, Toniasso??? (Odonto), xxx

A RESISTÊNCIA DEMOCRÁTICA

Por Ricardo Almeida
"O importante é que a nossa emoção sobreviva" - Eduardo Gudin e P.C.Pinheiro

Parafraseando Sartre, eu me arrisco a dizer que nunca nos sentimos tão "livres" quanto na resistência democrática. Cada gesto nosso durante a ditadura representava um engajamento, e a conseqüência poderia ser o isolamento, a prisão ou até a morte. Naquele período tiranizado, foram os estudantes, junto com agricultores, operários, políticos, religiosos e intelectuais, que resistiram de uma forma mais intensa e decisiva. Num primeiro momento, aguardávamos a volta dos exilados na esperança de que houvesse uma salvação nacional, com novas ideias para melhorar o mundo e as nossas vidas. Depois, embarcamos na leitura dos clássicos e de todo tipo de reflexão filosófica, política e existencial que havia sido produzida nos séculos 19 e 20. Tínhamos uma forte influência daquela rebeldia originada em maio de 68, na França, da guerrilha latino-americana e do Woodstock . Aos poucos, as visões iam se clareando e a gente vivenciava um sentimento misturado de liberdade e de prazer. Muitas polêmicas, risos, trabalho e sexo, com algumas drogas para suportar as contradições da vida ( o álcool e o açúcar também são drogas, hein!). Ali, naquele momento específico, a política se misturava com muita ousadia e prazer. A aquisição de novos conhecimentos e a busca por uma utopia libertária e subsversiva ia se realizando intensamente em cada um de nós. Ao mesmo tempo estávamos expostos a uma situação-limite e vivendo contradições de verdades subjetivas/objetivas da nossa diversificada condição humana, assim como confrontados com algumas escolhas difíceis, muitas delas extremas e urgentes que pareciam só depender de nós.

A VÉSPERA

Por Breno Corrêa Filho
O apartamento do Gastalzinho na volta da Praça estava totalmente lotado, não saberia dizer o nome de todos, mas muitos rostos conhecidos.
Era a última reunião para os acertos finais antes da manifestação na Pc. do Direito que seria na manhã seguinte.
Já era de conhecimento de todos que se alguém tentasse falar seria preso imediatamente. Um grupo sugeriu que cancelassemos o evento, não vou citar nomes para não criar mais polêmica. Democráticamente fizemos uma votação e por grande maioria decidimos ir em frente.
Passamos então a discutir coisas práticas, como procederíamos ao chegar, quem iria se manifestar, lembro que o Gastalzinho iria abrir os trabalhos e a Flavinha iria falar sobre a "arte engajada", tinha mais gente inscrita para falar mas não recordo.
Mais tarde chega o Dr. João Carlos Gastal, como bom trabalhista, possivelmente vinha do restaurante Johnny's Drinks, na época na rua Voluntários entre Anchieta e Quinze, tradicional reduto do que se chamava "autênticos" do MDB.
Todos silenciaram para ouvir suas palavras de incentivo, coragem e experiência, foi um momento fantástico.
Antes de ir embora o Dr. Gastal melancolicamente olhou um relógio parado, que estava na parede da sala e comentou que depois que ele foi embora ninguem mais se importou em dar corda nele. Lembro que puxou uma cadeira, subiu, deu corda e acertou os ponteiros.
Ao decer da cadeira deixou cair de seu bolso um revolver, jamais esquecerei do Adãozinho pegando a arma pela alça de mira com o polegar e o indicador, e entregando ao dono dizendo: "O sr. deixou cair isso dr."
Bom, seguiu a noite agora com várias discusões paralelas, e alguém observou que os "fusquinhas" preto e branco da polícia rondavam a quadra.
Impressionante, olhando da janela do apartamento parecia um carrosel, eram vários andando em circulo em nossa volta.
Alguém sugeriu que ficassemos a noite toda lá, o que prontamente foi aceito. Iriámos na manhã seguinte direto para a Praça.
Um grupo foi para a cozinha fazer um carreteiro, outros cuidavam das bebidas, lembro do negão Claudiomiro com uma garrafa de uisque na mão, solenemente olhava para ela e repetia: "chivas, chivas..."
Esta experiência noturna foi narrada depois no Jornal O Que É, pelo Cavalheiro, acho que ele era jornalista, não lembro, nunca mais ouvi falar dele.
Na manhã seguinte saimos dois a dois, prática comum para evitar sumiços, e o resto já foi contado aqui, ninhos de metralhadora no telhado, guarnições acantonadas no quartel de bombeiros, eles também passaram a noite se organizando.

O ATO

- Na primeira foto, além do Gastal, aparecem ao fundo o Coelhinho, Paulinho Nogueira e o Maurício Polidori, no canto à direita.

- Na segunda foto, o Dep. João Carlos Gastal, de costas. O Claudiomiro, em pé, o Valdecir, no canto à direita, o André Hipólito, abaixo do Claudiomiro, embaixo à esquerda estão a Nelfai (viúva do Renê Dutra), a Bitisa (de touca, rindo).e o Adão, sentado com cigarro na boca. Mais o Carlos Ari e o Ernani Ávila, ao fundo em pé, a Ivone Machado – 1ª sentada, à direita, aplaudindo e rindo.

Na terceira foto, a Bebete, irmã do Gastal e o Mickey.


Por Bitisa Mascarenhas

Minhas lembranças do ato na praça do Direito são de outra natureza, e só por isso acho que podem ser interessantes. Esse dia teve para mim uma importância pessoal que foi fundamental e definidora. Foi o dia em que escolhi um lado, ou o dia em que mudei de lado.

Na véspera, enquanto vocês se organizavam, eu dormia tranquilamente, sem idéia do que estava acontecendo e por acontecer. Também não tinha uma compreensão minimamente alinhavada do que acontecia no país. Em 77 eu tinha 20 anos e estava no 2º ano de Direito. Em 76, quando entrei, fui “encaminhada” pelo meu amigo Tom Fetter – este mesmo que hoje é o prefeito de Pelotas – para um seu amigo e correligionário que era então presidente do DA: chamava-se Airton, apelido Catarina (era de Lajes), e foi meu primeiro namorado na vida universitária – tive muitos. Imediatamente passei a integrar a equipe do DA como – surpresa! – secretária. Penso que simplesmente fui convidada, aceitei, porque achei o máximo ser de um organismo estudantil, e fui absorvida. Não tenho nenhuma memória da atuação desse grupo naquela entidade naquele momento.

No dia do ato – quando foi? Em abril? Maio talvez? – fui pra faculdade assistir aulas. Os acontecimentos daquela manhã me deixaram de frente pra uma realidade que até então era pra mim distante, difusa e confusa. A violência repressiva do aparato policial-militar cercava minha praça, minha escola, meus colegas, outros estudantes que eu não conhecia. Algumas pessoas – colegas, professores – olhavam de fora, das escadarias e das janelas da faculdade. Eu não pude ficar nas escadas. Simplesmente eu soube ali, numa intuição libertária que explodiu dentro de mim, o que era justo, o que era certo, o que era bonito. Escolhi o meu lado e desci pra praça. Não foi nenhuma decisão baseada na minha consciência política, que era zero. O que me levou foi puro impulso, emoção, indignação, o meu sentido de justiça.

Minha tomada de posição provavelmente teria se dado de qualquer modo, mais tarde. Acho que sempre tive uma alma libertária. O que me faltava era informação. Fico feliz que tenha se dado mais cedo – naquele ato, na praça do Direito, ainda no início de 77. Por ter sido então, pude viver em profundidade a retomada do movimento estudantil em Pelotas e no Brasil, as lutas políticas daquele período, a construção do saudoso Partido dos Trabalhadores logo após. Quanta coisa eu teria perdido se tivesse demorado um pouco mais a querer compreender. Talvez tivesse perdido até mesmo a possibilidade de estar hoje aqui, com vocês parte deste grupo.

Por Paulo Brod Nogueira

Bitisa, tanto tempo convivemos e eu te tinha como parte integrante da organização daquele ato. Esse teu relato é,pra mim, mto bonito e revelador mas, sobretudo, emocionante por resgatar o estado de consciência onde nos encontrávamos, que não era mto diferente entre os que estavam dentro ou fora da praça. Como disseste, bastou um momento para te encontrares identificada...como de certo aconteceu em akgum momento, antes, durante ou depois (não importa), com todos nós.




A MEMÓRIA E A DESMEMÓRIA

Por Bitisa Mascarenhas
O curioso na desmemória é que ela aleatoriamente apaga algumas coisas e mantém outras vivíssimas. de modo geral apago fatos, mas mantenho sentimentos. a minha memória desse dia é basicamente das sensações e emoções que vivi. não lembro quem estava na praça, além do Gastal; não lembro se era muita ou pouca gente; não lembro da cara do dia; não lembro quanto tempo durou; tenho apenas uma idéia turva do que eram as forças da repressão naquele momento, mas não lembro de fato se eram muitos e o quão armados estavam; não lembro quem foi o colega que me segurou pelo braço me dizendo pra não me meter naquilo. tudo que lembro foi o que senti e que contei. só bastante tempo depois compreendi o que aquele dia significou pra mim.
penso que a tua memória também te prega peças por achares que eu estava na organização do ato. por outro lado, sei que exatamente a partir dali me juntei a vocês, que já marcavam posição na faculdade de Direito: tu, Gastal, Mickey, Duca, acho que talvez Valdecir e Milton. então, realmente eu estive junto desde um momento bastante temprano. além disso, penso que esta história que contei agora só senti possível de contar agora. naquele tempo era melhor obscurecer o meu ingênuo "namoro" com a direita: éramos todos bastante sectários, embora este fosse um atributo apenas aplicável aos demais, nunca a nós mesmos. acho que me agradaria mesmo que todos pensassem que eu era "revolucionária" de berço... :)

acho que temos belas histórias pra contar do nosso tempo no Direito. mas eu não lembro dos fatos, então aponto algumas, talvez tu queiras contá-las: o dia em que o Direito recebeu com honras, penso que para uma aula inaugural, não lembro se o próprio Marcelo Caetano ou outro figurão da deposta ditadura portuguesa, e nós o recebemos enfileirados nas escadarias com cravos vermelhos; a ocasião em que perdemos (Novação) as eleições do DA pro Calucho, mas nossa votação foi tão representativa que demandamos - e levamos - uma sala no espaço do DA, que foi o germe organizativo de muitas atividades da nossa fatia da esquerda, e um dos primeiros espaços, senão o primeiro, de reuniões do PT; nossa formatura na sala da direção - da Alzira, Gastal e eu (faltando tu, porque o Bellora te deixou em Processo Civil por uma merreca de pontos) - verdadeiro ato político para o qual convidamos através de uma panfletagem nas escadarias, ao final do qual li o discurso que redigimos coletivamente e que não deixava pedra sobre pedra...; nosso primeiro escritório de advocacia popular e sindical, na XV - tu, eu, Milton, Valdecir - , que evidentemente não deu certo, mas que mais uma vez foi um espaço importante de encontros e atividades - e quando o projeto de advocacia não deu certo, Milton e Valdecir, mais o Baratinha, garantiram o lugar criando o Misturança.

UMA VISÃO DIFERENTE

Por Florismar

Eu estava presente na manifestação como cidadão, apenas como assistente. Eu era tenente, mas não estava a serviço. Naquela ocasião eu já era professor da Universidade e muitos dos que estavam ali presentes
eram meus alunos na Prática Desportiva, que naquela época era obrigatória. Nunca concordei com aquela decisão. Foi uma violência. Não tive absolutamente nenhuma intervenção e muito menos pratiquei qualquer ação de apoio aquele ato. Foi aquela ação que me motivou a solicitar afastamento da BM. Exatamente após aquele episódio solicitei licença da Brigada para tratar de interesses particulares e nunca mais voltei. Quem comandava aquela ação era o Capitão Luis Carlos da Fonseca, que depois foi expulso da Brigada. (...)
Na época o comandante da 1ª Cia, responsável por isso, era o Cap PM Luis Carlos da Fonseca, "o Fonsequinha". Eu era tenente ainda e já era professor da UFPel (ESEF). Estava presente naquele ato. Mas não estava a trabalho. Assisti tudo, do lado de fora, sem nenhum protagonismo. Naquela época eu era muito
ingênuo e não entendia nada sobre ideologia política. Mas não gostei da forma como o Fonsequinha tratou da questão. No momento em que o Gastal tomou o microfone para se manifestar, foi impedido e preso. Foi o comandante da operação que tomou a iniciativa de avançar, imobilizar e conduzir o Gastal.
Os estudantes estavam sentados no chão da praça em torno da bandeira nacional, assistindo as falas. Pelo que lembro os estudantes não fizeram nada de violência. Apenas cantaram o Hino do Brasil, de forma pacífica, sem
agressões. Aquele episódio me levou a refletir, duvidar e até contestar os ensinamentos sobre "subsersão", "tumulto" e "ordem". Na ocasião fiquei muito chocado e "desnorteado". Em seguida, um ou dois meses depois, me afastei da BM e saí para o mestrado no Rio. Lá descobri o PT (em processo de fundação), aprendi outras versões sobre a ditadura e democracia, li muitas coisas e assumi explicitamente a minha opção militante a partir de um referencial de esquerda. Em 1980 comecei as minhas primeiras leituras do Capital. Em 1982 comecei a militar publicamente no PT, na campanha do Olívio Governador e Frank/Helen para Prefeito de Pelotas.

REPRESSÃO NO CONE SUL

Por Ricardo Almeida
Não lembro o ano, mas fizemos a apresentação do filme 25, de José Celso Martinez, sobre a Independência de Moçambique. Foi no anfi-teatro do Gonzaga (?)... Tudo uma maravilha até que, ao final da apresentação, ficamos sabendo que uma francesa da equipe que trouxe o filme estava levantando informações sobre a repressão no Cone Sul e tinha sido identificada pelas "forças da repressão" uruguaias. Ela estava num hotel do Chuí uruguaio, mas quase sem contato com a equipe (lembrem que ainda não existia celular e nem internet), e não conseguia atravessar a fronteira, pois podia ser presa. Até hoje, não sei bem toda aquela história e no que que deu... O engraçado é que reunimos todo o pessoal que estava por ali e fomos para o apartamento do Glauco e da Nadija, que era quase que um "aparelho" de planejamento e ação em Pelotas (assim como outros aptos. e casas que se abriam). Escutei atentamente os discursos e discordei logo de cara, pois achava que muitos estavam tratando do caso como se fosse um filme do James Bond. Eu estava acostumado em atravessar a fronteira, pois vivi quase toda a minha infância e juventude em Livramento-Rivera, e percebia que a questão era muito mais simples do que alguns argumentavam. Não deu outra: me indicaram (hehehe), junto com o Flávio Coswig para irmos até lá. Depois, pegamos a Adalgisa e, ainda de madrugada, partimos no carro do Flávio para o Chuí. Lá estariam esperando o seu Elon e a dona Eni, pais do Glauco e da Nadija (grandes pessoas, que merecem um capítulo só para eles). Eles eram muito conhecidos pelos guardas da alfândega e se dispuseram a correr aquele risco. Combinamos tudo, inclusive se desse problemas: Seu Elon, dona Eni (um casal) e eu atravessaríamos a fronteira e eu desceria no hotel Casino, onde ela estava hospedada. Aconteceu mais ou menos o seguinte ao chegar na portaria: - Buenos dias, señor... La Señora Beatrice, por favor... etcetera e tal... O porteiro me indicou o número do quarto e eu segui em frente. Bati na porta e ela foi aberta por uma linda loira francesa... Entreguei o bilhete que haviam me dado e ela me disse, com um sotaque afrancesado:
- Parrece un film du James Bond.... Hehehehe
Eu era tímido pra casseta, mas tudo
isso ficou gravado na minha memória.
Atravessamos tranquilamente a fronteira... Sempre conversando, para não chamar atenção.. . Ela fumava o tempo todo (sem parar)...
Até chegarmos novamente em Pelotas...

A PROPAGANDA

Por Leo Venzon
O Coelinho (med) comprou uma velha impressora off-set com o dinheiro arrecadado na boite da Leiga. Fui convidado por ele e assumi a incumbência de imprimir os panfletos contra a ditadura a serem distribuídos dia 31 de março. Entre outras coisas, ele tratava de culpar a repressão militar pela morte do estudante secundarista Edson Luiz em São Paulo, numa manifestação estudantil. Fomos avisados (na Leiga, onde encontrava-se a off-set), por um telefonema, que os milicos estavam vindo nos prender. Colocamos os panfletos e a off-set no fusca do Vagareza, fomos até a praça Cel. P. Osório e, como eu tinha a chave do lago da praça onde eram guardadas ferramentas de jardinagem, apanhei uma pá e uma picareta. Fomos até o laranjal, ensacamos os panfletos em sacos de lixo de plástico azul claro e lacramos com fita crepe, abrimos um buraco na areia da praia, colocamos os panfletos e cobrimos com areia. Fizemos um mapa do local. A off-set foi levada para meu apartamento (que ironicamente era na vila militar). Os Teodolitos e outros materiais passaram a ser impressos na off-set. Um ano após desenterramos os panfletos e distribuímos, no dia 31 de março.

Por Ricardo Almeida

Entrei para o movimento estudantil como um bom “pintor de faixas”. Acho que é assim que todos entram em uma nova organização: com humildade e dedicação total, para logo conseguir a aceitação do grupo. É que eu tinha um pouco de familiaridade com os pincéis e essa era a melhor forma que encontrei para colaborar com aquele processo novo e ousado. Lá em Livramento a gente agitava bastante, mas era no campo das artes e da cultura. Antes disso, havia sido vice-presidente do meu grêmio estudantil e a minha turma de amigos costumava promover eventos pela cidade. Um deles, lembro, foi a Semana de Artes, que levávamos arte para os bairros da “periferia”. Ou seja, eu já tinha um pouco de vontade política e experiência, e isso me facilitou bastante na minha chegada a Pelotas. Mas o melhor de tudo é que logo encontrei o Leo Venzon, um propagandista de primeira grandeza, que fazia jornais, cartazes, faixas, piruetas e tudo que fosse necessário para divulgar as nossas idéias. Ou melhor, quase tudo! Ele era ousado mesmo! Só para dar uma idéia: na véspera das eleições de 78 o campus amanheceu coberto de verdadeiros outdoors da chapa Construção. O Leo e eu (não lembro se havia mais pessoas) acordamos cedo e fomos para o campus com uma escada e uma pilha de cartazes da chapa (aquele com as mãos e os tijolos, feito pelo Lúcio Vaz). Escolhemos as melhores paredes... E nelas fizemos uma composição de cartazes que resultava na palavra “DCE”. Uma maravilha de resultado estético que já mostrava uma grande diferenciação e capacidade de convencimento. Vocês lembram das paredes do RU? Elas davam para todos os lados... Estavam de frente para quase todos os prédios do campus. Na chegada dos ônibus, aquilo se transformou num belo elemento “surpresa”, que só podia surgir de uma cabeça super criativa. Grande Leo Venzon!

Até hoje tento definir o peso que aquela ação deve ter tido no resultado das eleições, pois lembro que o resultado foi super apertado e dependeu da defesa intransigente dos votos da Educação Artística (Que eram nossos!)

Será que alguém poderia completar essa história? O escrutínio, a composição da chapa, a questão da Educação Artística?

A MISSA

Por Fernando Grassi

Participei dos eventos de 1978 como secundarista que era, estudante da ETFPel.
Lembro da missa (clandestina) em memória dos dez anos da morte do estudante Edson no restaurante Calabouço. Marcada para ser realizada na Capela do São José para lá fui e encontrei apenas dois companheiros no portão da escola que estava fechado (acho que um deles era o Gastal). Estes estavam ali para informar que na verdade o evento seria realizado naquela capela localizada na Gonçalves Chaves entre Princesa Isabel e Butuí. As viaturas da polícia e umas Veraneios suspeitíssimas rondavam o colégio das freiras. Enquanto isso o pessoal, a grande maioria ateu, cantava fervorosamente na missa a música "Prá Não Dizer Que Não Falei DasFlores". O São José e os companheiros que lá estava eram apenas bois de piranha. O que mais adorei neste episódio nem foi o ato em si, mas termos conseguido passar os gorilas para trás. Deve ter escorrido uma baba verde do canto da boca do De Bem.
Prá Não Dizer Que Não Falei do Flores - embora sem protagonismo algum, apenas como mero assistente, estive no ato da praça do direito e presenciei as prisões (pensei que era mais de uma).

OS "ASTRONAUTAS" DA REPRESSÃO

Por Ricardo Nogueira


O João Carlos Gastal Júnior é assessor do senado aqui em BSB,esses tempos quando eu morava na Acadêmia de T ênis encontrei a ex-esposa dele.Naquela época ela estudava Educação Artística.Quando foi preso lá na praça do Direito ela pequenininha que era se atracou num brigadiano.Foi mais fácil levar ele para o camburão do que soltá-la do colarinho do pobre PM.Tu lembra bem,estávas lá, ¨in loco ¨.Eu lembro que aquele dia o meu pai acordou-me às 6hs para avisar-me que o pátio do Pelotão dos Bombeiro estava lotado com o Batalhão de Choque que havia se deslocado de POA.Porque em Pelotas,naquela época não tinha o Choque.E me disse tu não vais nesta manifestação.E eu lhe:¨mas agora mesmo que vou,tu achas que nós vamos ficar com medo desses caras fantasiados de astronautas¨.Ele ficou me olhando e disse :¨é bem Nogueira mesmo,não tem medo de nada¨.Rrespondi :apreendi contigo. Ëntão vai mas te cuida,porque não tenho dinheiro para pagar advogado para te soltar depois ¨.É essas coisas que nos emocionam,parecem que foram ontem.Meu pai morreu exatamente em abril de 1979,minha filha mais velha Daniela,nasceu no dia 25 de maio e a UNE foi reconstruida dia 29 de Maio em Salvador.É 30 anos.PS:meu pai era proprietári o de um Armazem na esquina da xv com a Gomes Carneiro,em frente aos Bombeiros,O Chafariz,aonde moravamos.Inclusive meu irmão mais moço,o único que tenho,levava esse alcunha.É faz tempo,mas a gente fica mais vivo rememorando.

Por Ricardo Almeida


O Coelhinho era de f... e pelo jeito que ele escreve, parece que ainda é. Numa manifestação que lembrava os desaparecidos (não lembro qual) ele não aparecia e eu fui buscá-lo em casa (ali na esquina da Anchieta). Logo fiquei sabendo que o pai dele havia falecido. Não deu outra: o cara deu uma enxugada nos olhos e em meia hora estava na Praça Pedro Osório "agitando" a manifestação que se iniciava. -- Honestino Guimarães (Presente!), Vladimir Herzog (Presente!)... etc. etc. etc.
Eram tempos difíceis e eu estava apenas entendendo o que era uma ditadura.

Por Maurício Polidori (Fotos e textos)


Estávamos na assembléia dos alunos na Baixada e havia rumores de que a polícia de choque estava vindo de PoA para reprimir qualquer manifestação da rua. Seria verdade ? Como eu andava sempre com a máquina fotográfica, saí da assembléia e fui confirmar. Achei que de uma casa da esquina daria prá fotografar e então pedi pro proprietário para chegar na sua sacada. Eu = Posso tirar uma foto lá de cima ? Proprietário = Mas isso não vai dar problema prá nós ? Eu = claro que não ! Depois de um tempinho ... acho que a mulher do cara = Tira esse guri da sacada ... nós vamu tudo preso !! Saí de fininho, pois se me pegassem poderia perder a câmera.

Nesse mesmo dia da assembléia na Baixada, caminhando pelo meio da rua, como gostávamos de fazer, fomos surpreendidos por trás por uma brasília, muito suspeita. Andou devagar ao nosso passo, o suficiente para assustar. Então parou e se abriram as duas portas, com uns caras saindo. Acho que no susto e na adrenalina, saquei a máquina fotográfica e apontei ! ... foi o suficiente prá desistirem, pularem de volta pro carro e saírem de ré ! Pois é, depois fiquei sabendo que os "ratos" odiavam ser fotografados, mas eu de fato não dei um tiro sequer, pois não consegui nem ligar a máquina !






ASSEMBLÉIA GERAL NO BENTO FREITAS

Fotos enviadas por Maurício Polidori


Na foto: Flávio Koswig, Maurício/Selbach, Adalgisa, Magda - favor enviar outras identificações. Pode ser no link COMENTÁRIOS, que está logo abaixo deste cada post.

Aos poucos, o pessoal ia se acomodando na arquibancada do Estádio Bento Freitas (Xavante). Foram aproximadamente 3.500 pessoas na Assembléia.

NEM TUDO ERA SUBVERSÃO...

Por Breno Correa Filho

Este episódio aconteceu possivelmente alguns dias antes da manifestação na praça do direito, para facilitar a compreensão de quem não viveu aquela época, vou explicar algumas coisas antes de iniciar a história: naquela época era preferível a polícia te apanhar com um cigarro de maconha do que com o que eles chamavam "material subversivo" (bárbaro o termo né?), a convocação para o encontro na praça do direito era feita através de folhetos, impressos do jeito que se podia, e passado de mão em mão, saiamos para rua com tais folhetos e discretamente iamos entregando, obviamente a polícia (sempre bem informada) sabia disso tudo. O fusca era a viatura oficial dos "ratos" naquela época, (estou postando junto um comercial para tv do fusca, de 1951, quando a polícia de São Paulo começou a usar os carrinhos, e logo todo o país, creio que para visualizar se clica em arquivos na barra a esquerda da nossa página). O Vagareza como não era de Pelotas alugou um imóvel para morar e o pai do nosso amigo Alberto (Magrão) Llanos (medicina) foi o avalista no contrato de locação.
Era um fim de tarde, como de costume a gente se reunia para tomar mate e fumar "uma" geralmente na barragem onde dava para se ver o pôr do sol.
Eu morava na Anchieta ente Neto e Voluntários, e o Magrão Llanos com o Barata passaram lá para me pegar num chevette branco, assim que eu entrei no carro, encostou do lado o Vagareza (acho que o Peninha estava junto)na sua brasilia laranja. Com os carros emparelhados o Magrão passou pela janela o contrato de locação já assinado pelo pai dele, o Vagareza pegou e seguimos o nosso rumo.
Ao chegarmos na esquina da Neto fomos fechados por um fusquinha preto e branco, com o nosso caminho bloqueado tivemos que parar, nem vi como, mas dois ou tres "ratos" nos apontando armas (um deles tinha uma metralhadora INA, que anos mais tarde tive oportunidade de experimentar)estavam em nossas janelas e um deles já tinha pego o papel que foi passado de um carro para outro. Não esqueço a expressão de dificuldade do "rato" que estava procurando entender o que estava escrito no papel, lia como se estivesse juntando as letrinhas, e nós paralizados, assim que ele se deu conta que o documento era um inofensivo contrato de locação(a impressão que tive é que se passaram horas)ficou visivelmente decepcionado, devolveu para o Vagareza e para não perder a "pose" olhando sério para todos nós... Disse em tom ameaçador: "Tomem cuidado!!!"

SÃO PAULO, 1976

Por Dirce S. Carvalho
X Congresso Brasileiro de Arquitetos e Encontro de Estudantes de Arquitetura. Marco histórico.Muito protesto. Foi o primeiro congresso depois do Ai5. Mais de 3 mil pessoas.Ibirapuera.profissionais, professores que haviam sido cassados pela repressão.Demétrio Ribeiro e outros participando.Panfletos de todo o lugar, esperavam mil pessoas!tinha gente de todo o Brasil.Também tinha 'rato' por todo o lugar.Fomos junto com o pessoal da UFRGS,MAS EM ONIBUS PRÓPRIO.ERA ONIBuS DE LINHA URBANA!Foi mum louca viagem regada a vinho, "tigrinhas" e "zebrinhs"! Alõ, Martha Amaral.O Encontro terminou apoteóticamente com show do Gonzaguinha, ao ar livre. No final ,cercado de policiais fardados, mais de 10 lado a lado com ele no palco.Foram se chegando , até que o cercaram, para forçar terminar o show que já tibha sido bisado muitas vezes.Ele, o Moleque, ficou impassivel como se nada estivesse acontecendo.Seguiu cantando até despedir-se do publico.Assisti ao show, eu a Silvia Kortina porque ficamos em São paulo, e o pessoal de Pelotas teve de retorna antes do show.Livres memórias!

Por Ricardo Almeida
Quando fomos a São Paulo naquele Congresso de Arquitetos, assisti uma peça do Guarnieri que se chamava Ponto de Partida (com Othon Bastos, Sérgio Ricardo e acho que a Lilian Lemertz). A peça falava de um poeta que amanhece enforcado numa praça (alusão a W.Herzog, morto em 75) e cujo cartaz do Elifas Andreato mantive colado em meu quada-roupas de estudante por muitos anos. Dela ficou a seguinte mensagem que serve para este encontro do março:

"Tenho pra minha vida
A busca como medida
O encontro como chegada
E como ponto de partida" (Sérgio Ricardo)

O Nenê conhece bem essa estrofe... Acho que cantamos juntos algumas vezes.